Folha de S. Paulo


Cunha diz que relação com governo será de harmonia com desconfiança

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, disse nesta segunda-feira (9) que manterá uma relação "institucional" com o governo federal, mas "sem confiabilidade". Ele atribui ao Palácio do Planalto a inclusão de seu nome na lista dos políticos envolvidos com a corrupção na Petrobras.

Apesar disso, Cunha afirma ser contrário ao impeachment, e disse defender ajuda ao Planalto para conquistar uma "governabilidade mínima" para que a crise política não afete a economia.

"[A suposta interferência do Planalto] Compromete a confiabilidade, mas não a responsabilidade que a gente tem com a governabilidade. Há uma diferença muito grande em ser seu amigo e ter uma relação de confiança, outra é pensar em não deixar o país à deriva. A relação tem que ser institucional como sempre. Diria que está sem confiabilidade, porém a harmonia tem que estar presente. Não vou usar a presidência da Câmara como fonte de retaliação ao governo", disse Cunha, após almoço com empresários na Associação Comercial do Rio.

Cunha considera que houve interferência do governo para incluir seu nome na lista dos investigados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ele afirma que o governo federal buscou desviar o foco da crise política para o Congresso e citou as manifestações marcadas contra a presidente Dilma Rousseff no próximo domingo (15).

"Houve interferência para colocar a crise no outro lado da rua, para vir para o Congresso. Não há dúvida em relação a isso. Houve uma tentativa de dividir uma crise que está instalada dentro do Poder Executivo. A corrupção é na Petrobras, do governo. Quem tem que combater a corrupção é o governo, não é o Congresso. Às vésperas das manifestações que vão ocorrer no dia 15, me pareceu uma atitude política."

FINANCIAMENTO PÚBLICO

O peemedebista afirmou que os inquéritos abertos têm como objetivo criminalizar as doações privadas. Para ele, é uma forma de "impor o financiamento público" das campanhas eleitorais.

"A tentativa de criminalizar a doação eleitoral legal é uma forma de tentar trazer para a sociedade que o financiamento é crime. Com isso tentar impor o financiamento público. Isso é uma das coisas que está por trás disso. O que se quer concluir é: 'Como a doação privada é fonte de corrupção, só nos resta financiamento público'. Só vai sobrar o financiamento por pessoas físicas, que só o PT tem condições de arrecadar, ou financiamento público, que a sociedade não quer", disse o deputado.

Apesar de apontar o governo federal como responsável por sua inclusão na lista, o presidente da Câmara disse que pretende impedir que a crise política arraste o país para a crise econômica.

"Temos um governo que tem ainda 3 anos e 9 meses de mandato. Não dá para fechar os olhos para a necessidade de juntos darmos uma governabilidade mínima que não prejudique a economia, as empresas e os trabalhadores como um todo."

Ele classificou pedidos de impeachment como "golpe". "Ela foi eleita legitimamente e tem um mandato a cumprir. Aqueles que votaram nela e porventura se arrependeram, deveriam ter tido esse juízo de valor antes de votar. Terão oportunidade de rever na próxima eleição."

Cunha criticou também a articulação política do governo federal. Ele afirmou que o PT se isolou na Câmara e deve buscar criar pontes para voltar a dialogar. Ele defendeu uma participação maior do vice-presidente Michel Temer na costura com o Congresso.

"O presidente do PMDB é o melhor quadro político do governo, com a maior capacidade de articulação política que o governo tem. É aquele que tem mais trânsito, tem uma experiência enorme. Não usar o Michel Temer na articulação política é sinônimo de não ter compreensão de como funciona o Congresso e como funciona a articulação política. Talvez seja por isso que a articulação política esteja desse jeito."

Ele afirmou que o encontro entre a presidente e o antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, só terá efeito caso a articulação política seja mudada. "Se não mudarem a articulação política, não adianta nada conversarem."

'VERGONHA'

Em discurso aos empresários, Cunha chegou a dizer que a "operação envergonha a todos nós". Em entrevista, ele afirmou que não se referia à operação Lava-Jato, mas à corrupção na Petrobras.


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