Folha de S. Paulo


Pagamento de propina foi decidido em reunião na casa de Renan, diz delator

O pagamento de propina das obras da Petrobras para o PMDB foi decidido numa reunião envolvendo caciques do PMDB na casa do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), atualmente presidente do Senado. A acusação foi feita por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras num de seus depoimentos para os procuradores da Operação Lava Jato.

Esse depoimento foi base para a abertura de um dos inquéritos que investiga o presidente do Senado juntamente com o deputado federal Anibal Gomes (PMDB-CE). Os dois são acusados de corrupção e formação de quadrilha.

Calheiros divulgou nota oficial em que diz que suas relações junto ao poder público nunca "ultrapassaram os limites institucionais". O peemedebista afirma ainda que nunca autorizou o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) a falar em seu nome.

O peemedebista disse que o processo de investigação é o único "instrumento capaz de comprovar" que ele não tem envolvimento no esquema.

LAGO SUL

Costa disse que entre 2005 e 2006 ficou doente e houve um movimento para retirá-lo da diretoria da empresa. Ele contou que "para que isso não ocorresse, entrou em cena a bancada do senado do PMDB, podendo citar os senadores Valdir Raupp (PMDB-RO), Renan Calheiros, Romero Jucá (PMDB-RR), bem como o Ministro [de Minas e Energia] Edison Lobão, sendo que a partir de então o PMDB passou a receber uma parcela das comissões relativas aos contratos da Petrobras".

No mesmo depoimento, Costa informa que foi procurado pelos parlamentares do PMDB para reuniões e que "uma dessas reuniões foi realizada na casa de Renan Calheiros, em Brasília, no Lago Sul".

Ele cita entre os participantes do encontro o ex-presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e o senador Romero Jucá. Segundo Costa, "o assunto tratado em todas essas ocasiões era o apoio do PMDB ao depoente para mantê-lo no cargo, em troca de o depoente "apoiar o partido".

Costa também afirma que Aníbal Gomes era o intermediário de Calheiros e que teve várias reuniões com ambos. Em outro trecho do depoimento, ele afirma que Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro indicado para o cargo por Renan Calheiros, recebeu propina de R$ 500 mil, mas que não sabia dizer se o dinheiro tinha chegado ao senador.

Os procuradores apontam que Calheiros recebeu dinheiro das empreiteiras em doações de campanha registradas das empresas Camargo Correia, Engevix, UTC, Galvão e OAS no valor de R$ 2,5 milhões. Os procuradores também citam R$ 32 milhões recebidos pela direção nacional do partido dessas companhias como prova do pagamento da propina nesse inquérito. (AGUIRRE TALENTO, ANDREIA SADI, CATIA SEABRA, DIMMI AMORA, GABRIEL MASCARENHAS, MÁRCIO FALCÃO, MARIANA HAUBERT, RUBENS VALENTE E SEVERINO MOTTA)


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