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Pastor que disputa comissão diz que terá 'postura diferente' da de Feliciano

Alan Marques/Folhapress
Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), que lançou candidatura avulsa à presidência da CDH da Câmara
Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), que lançou candidatura avulsa à presidência da CDH da Câmara

Pastor da Assembleia de Deus, o deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ) disse na manhã desta quinta-feira (5) que quer ser presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara com "uma postura diferente de Marco Feliciano" (PSC-SP).

Ele lançou candidatura avulsa contrariando acordo entre líderes de partidos, que decidiu por um parlamentar do PT no cargo. A iniciativa gerou tumulto e adiou a decisão sobre o comando do órgão para a próxima quarta (11).

Cavalcante afirmou que sua candidatura foi sugerida pelo próprio Feliciano e por Jair Bolsonaro (PP-RJ), ambos membros titulares da comissão. Disse, contudo, que pretende ser "árbitro para o diálogo dos dois extremos da comissão".

"Essa comissão tem gente de extrema direita, como é o caso do Bolsonaro, e o pessoal da extrema esquerda, que são petistas, o PSOL, que estão ali para defender só um tipo de bandeira, que são legítimas. Quero ser árbitro desses dois extremos e trazer para o diálogo. Quero trazer pautas que a sociedade realmente demanda. Não quero ser presidente para frear minoria. Acho que a minoria tem o seu direito. Vamos colocar para votar matérias de interesse da minoria", disse o deputado.

Cavalcante disse que, como "árbitro", apoia a discussão sobre aborto e casamento entre homossexuais; afirma que não pretende discutir decisões tomadas pela Justiça, como a união civil entre pessoas do mesmo sexo ou a interrupção de gravidez para os casos já autorizados pela lei.

Na legislatura passada, a comissão chegou a ser presidida pelo pastor Marco Feliciano (PSC-SP), que foi alvo de intensos protestos de diversas entidades de defesa dos direitos humanos. Feliciano agora continua como membro titular da comissão.

O deputado do PSD afirma que "a imprensa e a esquerda ajudaram a transformar Feliciano em um mito para muitos cristãos", em razão do que considerou ataques injustificados de movimentos sociais.

"Minha igreja não tinha aproximação ao Feliciano. Tínhamos até uma resistência. Mas toda vez que alguém parte para cima, injustificadamente, de alguém que comunga dos nossos princípios, a gente acaba se unindo. [...] Minha postura será muito diferente do Marco Feliciano. Serei árbitro para o diálogo dos dois extremos dessa comissão", disse o pastor.

ACORDO

A Mesa Diretora da Câmara havia definido que a Comissão de Direitos Humanos seria presidida pelo bloco formado por PT-PSD-PR-PROS-PC do B. Em acordo, líderes decidiram dar o comando ao PT, que escolheu Paulo Pimenta (PT-RS).

Pastor da Assembleia de Deus, ligado a Silas Malafaia –que deu forte apoio a sua candidatura à Câmara–, o deputado disse que não fora comunicado sobre o acordo entre líderes.

"Eles [Bolsonaro e Feliciano] me falaram: 'Nós não podemos ser candidato porque não estamos no bloco do PT. Você está. Tem coragem de lançar a candidatura avulsa?' Eu aceitei", disse Cavalcante.

Ele afirmou que comunicou na manhã de quarta ao líder do PSD, Rogério Rosso (DF), o interesse, sem qualquer reação contrária. E disse ter recebido duas ligações do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que lhe pediu para retirar a candidatura.

Evangélico, Cunha foi à igreja de Malafaia no domingo (1), onde também se encontrou com Cavalcante.

"Foi uma visita de cortesia pelo apoio que demos à campanha dele. Mas o Eduardo Cunha virou presidente da Casa contra todo acordo que existe. Há um acordo de cavalheiros que nenhum partido pode presidir Senado e Câmara. Ele quebra acordo quando quer alguma coisa para ele. Agora ele quer que eu cumpra acordo que não é meu? Paciência."


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