Folha de S. Paulo


Cunha vai à CPI da Petrobras dizer que está à disposição para esclarecimentos

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fez uma aparição surpresa na CPI da Petrobras nesta quinta-feira (5) e se colocou à disposição para prestar esclarecimentos em relação ao inquérito aberto contra ele pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

"O que me fez questão de trazer aqui são as notícias veiculadas que supostamente haveria citação a investigação que estivesse envolvendo o nome dessa presidência. Em primeiro lugar, gostaria de afirmar perante o plenário desta comissão, que este parlamentar, não o presidente da Casa, faz questão e está à disposição de vir aqui para prestar todo ou qualquer esclarecimento à medida que se conheça qualquer tipo de detalhe", afirmou Cunha.

E completou: "Eu faço questão absoluta de espontaneamente comparecer a este plenário e esclarecer todo e qualquer ponto".

O presidente da Câmara afirmou que causa "estranheza" o fato de a lista de políticos com pedidos de investigação não ter sido divulgada. Ele afirmou que encaminhou uma solicitação para tomar conhecimento se há alguma demanda o envolvendo e garantiu que dará publicidade ao seu caso.

"Acho que deveria ter sido divulgado [os envolvidos] de qualquer maneira. Causa muita estranheza. O que disserem com relação ao meu caso faço questão de dar publicidade", afirmou. Cunha disse ainda que não tem constrangimento em ter que eventualmente prestar depoimento no inquérito.

Como a Folha revelou, o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, ligado ao doleiro Alberto Youssef, afirmou ter transportado dinheiro para um local no Rio de Janeiro que lhe disseram ser a residência de Eduardo Cunha. Posteriormente, a defesa de Careca apresentou à Justiça uma retificação mudando o endereço no qual disse ter entregue o dinheiro.

À CPI, Cunha afirmou que o fato foi "publicamente desmentido" pelo próprio autor do depoimento e disse que não é verídico.

"Não há nenhum problema desse parlamentar em esclarecer às vossas excelências", disse o presidente da Câmara, que ressaltou ter defendido pessoalmente a instalação da CPI. "Desejo a todos vocês sucesso no trabalho e que nós possamos juntos passar a limpo toda essa situação envolvendo a Petrobras."

Gabriela Korossy/Divulgação/Câmara dos Deputados
Deputados batem boca durante início dos trabalhos da CPI da Petrobras
Deputados batem boca durante início dos trabalhos da CPI da Petrobras

BATE-BOCA

A condução dos trabalhos da CPI pelo presidente da comissão, Hugo Motta (PMDB-PB), foi alvo de críticas por representantes de diversos partidos e gerou um intenso bate-boca entre os deputados. O parlamentar Edmilson Rodrigues (PSOL-PA) chegou a chamar Motta, de "coronel" e "moleque".

Integrantes de algumas legendas na comissão, como PSOL, PPS e PSB, reclamaram que não foram consultados sobre a escolha dos vice-presidentes da comissão, realizada no início da sessão, nem sobre a criação de sub-relatorias da CPI -o que, na prática, vai esvaziar os poderes do PT, que ocupa o cargo de relator com o deputado Luiz Sérgio (RJ).

O relator conduz a investigação e redige o relatório final, mas as sub-relatorias diminuem esse poder, dividindo-o com outros parlamentares.

O deputado Afonso Florence (PT-BA) e o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) argumentaram que a indicação dos sub-relatores, pela tradição da Casa, costuma ser feita pelo relator. Motta, porém, rebateu dizendo que o regimento é omisso sobre esse ponto e que ele mesmo faria essa indicação.

Quando Motta foi formar as sub-relatorias e fazer as indicações, parlamentares contrários começaram a gritar. Alguns se levantaram e foram até a mesa, onde sentam os cargos de comando da CPI. Valente começou a discutir com Motta e outro deputado, Edmilson Rodrigues, fez referência ao peemedebista como "moleque".

Motta se irritou e respondeu aos gritos: "Não admitirei desrespeito de vossas excelências. Quem manda aqui é o presidente, respeitando o regimento. Eu não aceito desrespeito. Vossa excelência me respeite." E completou: "Eu não tenho medo de grito. Da terra de onde eu venho, homem não me grita".


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