Folha de S. Paulo


Executivos de empreiteira negociam acordo de delação para reduzir pena

Depois de quase dois meses de negociação, fracassou a tentativa da Camargo Corrêa de fechar um acordo de leniência com os procuradores da Operação Lava Jato.

Pelo acordo, a empreiteira confessaria crimes em contratos com a Petrobras e pagaria multa em troca de uma punição menor para a empresa e três de seus principais executivos, que estão presos.

Com o fracasso das negociações, os executivos começaram a discutir um acordo de delação premiada no qual eles poderiam alcançar pena menor, mas a empresa não.

Três integrantes da cúpula da Camargo Corrêa estão presos na Polícia Federal de Curitiba há três meses: João Auler, presidente do conselho de administração, Dalton Avancini, presidente da construtora, e Eduardo Leite, vice-presidente da empreiteira.

Vinicius Oliveira - 22.nov.2010/Folhapress
Dalton Avancini, presidente da construtora Camargo Corrêa, é um dos três executivos da empresa presos desde novembro
Dalton Avancini, presidente da construtora Camargo Corrêa, durante evento em novembro de 2010

Outro presidente de empreiteira, Ricardo Pessoa, da UTC, também negocia um acordo de delação premiada.

A Camargo Corrêa buscava um acordo de leniência para evitar ser declarada inidônea, o que a impediria de participar de obras públicas, e para contornar as acusações de que formou um cartel com suas concorrentes. A condenação pela prática de cartel redundaria em multas milionárias.

A Lava Jato já conta com 13 delatores, mas não há nenhum de uma empresa de grande porte. A Camargo Corrêa seria a primeira.

A negociação naufragou por duas razões principais, segundo a Folha apurou com negociadores: a empreiteira considerou que era inviável a multa exigida pelos procuradores, de R$ 1,5 bilhão, e não aceitou que seus executivos continuassem presos mesmo depois de a empresa confessar irregularidades.

O valor inicial pedido pelos procuradores era de R$ 2 bilhões, segundo a Folha apurou. A Camargo aceitaria pagar em torno de R$ 500 milhões, segundo negociadores ouvidos pela reportagem.

Um desses negociadores disse à Folha que o valor oferecido pela Camargo seria um marco histórico em acordos desse tipo no Brasil, superando o recorde recuperado até agora pela Lava Jato, os US$ 97 milhões (R$ 275 milhões) devolvidos pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco.

Editoria de Arte/Folhapress

A multa de R$ 2 bilhões ultrapassa o valor da empresa, de R$ 1,7 bilhão, segundo um representante da empreiteira ouvido pela reportagem.

A avaliação de R$ 1,7 bilhão foi feita por um banco antes da deflagração da Lava Jato. Após a operação da PF esse valor caiu, mas não há avaliações disponíveis. A empreiteira faz parte de um grupo que teve uma receita líquida de R$ 25,8 bilhões em 2013, o último dado disponível.

Na avaliação de um advogado que participou das discussões, há outras razões para o fracasso: os procuradores podem estar buscando outra empreiteira grande que aceite oferecer mais informações sobre os crimes do que a Camargo topou delatar. Ele também diz suspeitar que o governo ou representantes do PT podem ter atuado para evitar que a Camargo conte tudo o que sabe e coloque o partido em situação ainda mais delicada do que ele já está.

A Camargo Corrêa é acusada pelos procuradores da Operação Lava Jato de ter pago cerca de R$ 40 milhões em propina para conseguir grandes contratos na construção da refinaria Abreu e Lima, no valor de R$ 5,1 bilhões, e na modernização de uma unidade da Petrobras no Paraná, a refinaria Presidente Vargas, obra orçada em R$ 2,8 bilhões.

A empresa sempre negou o pagamento de suborno.


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