Folha de S. Paulo


Filha de Costa tentou devolver cheque de R$ 500 mi por 15 dias, diz advogado

A filha do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que recebeu um cheque administrativo de R$ 500 milhões do Bradesco em vez dos R$ 500 mil que solicitara, tentou devolver o documento por duas semanas, mas esbarrou na burocracia da instituição, segundo a mulher do executivo, Maricy Costa, disse em entrevista à Folha.

"Ela poderia ter fugido para o exterior, mas não o fez. Ela tinha o equivalente a duas Megasenas da Virada. Foi o advogado dela que comunicou o erro ao banco", afirma Maricy.

Arianna Costa Bachmann é acusada em uma ação judicial movida pelo Bradesco de se recusar a devolver o cheque, que recebeu do banco em 30 de janeiro.

"O Bradesco cometeu uma atrocidade com uma cliente que estava ajudando o banco", afirma Maricy.

O advogado de Arianna, Raphael Montenegro, diz que tentou marcar várias reuniões com o banco para devolver o cheque "de forma segura". Ele afirma que não queria fazer a devolução na própria agência porque "a pessoa que cometeu o erro poderia querer se proteger, o que é natural".

Montenegro diz ter recorrido a várias instâncias do banco para fazer a devolução nesse período. Só conseguiu chegar à diretoria graças a ajuda de um conhecido que trabalha para o banco, segundo ele. O advogado diz que finalmente contatou dois diretores do Bradesco, o jurídico e o regional, mas eles nem sabiam do caso do cheque de R$ 500 milhões.

Nesse dia, de acordo com ele, um oficial de Justiça notificou Arianna que ela precisava devolver o cheque.

"É uma falta de controle total do banco. Isso expõe a falta de compliance [controle interno] do Bradesco. A Arianna sempre quis resolver o erro", afirma Montenegro.

De acordo com o advogado, o Bradesco já havia cometido um erro com o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, quando comunicou os órgãos de controle do governo de que ele tentara sacar R$ 200 mil antes de viajar para a Inglaterra, no começo deste mês. O comunicado sobre o saque foi anexado ao decreto de prisão de Cerveró, detido desde 14 de janeiro.

O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, anunciou que vai processar o Bradesco pelo erro.

Ainda de acordo com Montenegro, o erro do Bradesco está sob investigação no Coaf, órgão federal de combate à lavagem de dinheiro.

Arianna é ré numa ação da Operação Lava Jato, sob acusação de tentar ocultar documentos. O acordo de delação premiada que seu pai assinou com procuradores estende os benefícios a ela e outros familiares. Neste processo ela teve bens bloqueados, mas não foi impedida de movimentar valores em bancos.

OUTRO LADO

O banco afirma em nota sobre o cheque de R$ 500 milhões que "a questão objetiva e fundamental se cinge a um direito comercial básico. E o Bradesco apenas se utilizou dos meios jurídicos cabíveis para defender seus direitos".

O Bradesco nega que seja alvo de uma investigação do Coaf. "Reafirmamos que nossos registros junto ao Coaf são rigorosos e tempestivos [dentro dos prazos legais] e todos os controles são sólidos e consistentes com as melhores práticas de mercado".

O banco reconheceu que errou no caso de Cerveró.


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