Folha de S. Paulo


Para procurador, ação impede que governo se omita em demarcação

Procurador do Ministério Público Federal em Dourados (MS), Marco Antônio Delfino de Almeida entrou na Justiça para obrigar o governo a demarcar sete terras indígenas no centro-sul do Estado.

Reportagem publicada nesta segunda-feira (26) pela Folha mostra que a disputa de terras entre índios e fazendeiros em Mato Grosso do Sul segue sem solução.

Descrente da possibilidade de uma solução negociada para o problema, Almeida classifica as reuniões como "desperdício de tempo e dinheiro" e critica promessas não cumpridas do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), a quem chama de "alto mandatário".

Editoria de Arte/Folhapress

*

Folha - Como andam as negociações de demarcação?
Marco Delfino - A União não pode se eximir de um papel central no processo, ainda mais quando houve declarações públicas de altas autoridades federais, que vieram a MS em 2013 e disseram que a solução se daria em 90 dias. Quase dois anos depois, muito pouco avançou.

O que essa decisão da Justiça Federal tem de novo?
Ela foge ao caso específico. Aponta que a União tem de responder pela omissão na demarcação e que a forma de reparar a mora nesse processo é que os índios permaneçam nos locais e os proprietários sejam indenizados.

O Ministério da Justiça vai recorrer da decisão.
Isso mostra a incoerência do governo federal. Um alto mandatário diz "eu só não executo mais porque não tenho segurança jurídica". Aí uma decisão judicial estabelece um norte e mesmo assim haverá recurso. É a demonstração clara de que o governo não está comprometido com uma decisão. Ele tenta, ao mesmo tempo, atender aos indígenas e aos produtores rurais e fica, efetivamente, sem fazer nada.

A negociação avança?
Entendo que não. Inclusive porque a gente nem participa mais da mesa.

Vocês estão fora?
Não, mas a mesa já não se reúne regularmente. Ela acabou enfocando apenas o caso da terra indígena Buriti, mas em relação aos guarani-kaiowá o avanço foi zero. Apesar da palavra forte, me parece que foi apenas desperdício de tempo e dinheiro. Nenhum encaminhamento foi realizado, apesar das inúmeras reuniões.


Endereço da página:

Links no texto: