Folha de S. Paulo


Delator diz ter recebido US$ 1,5 mi por não atrapalhar compra de refinaria

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa revelou à Polícia Federal que recebeu do lobista Fernando Baiano, descrito como operador do PMDB, um total de US$ 1,5 milhão para "não causar problemas" em uma reunião que iria definir a compra, pela Petrobras, de uma refinaria em Pasadena, nos EUA.

É a primeira vez que vem a público depoimento do ex-integrante da Petrobras admitindo que houve propina no fechamento do negócio. A compra da refinaria gerou muita polêmica e foi questionada por diversas áreas de controle, como a CGU e o TCU. Em setembro, o "Jornal Nacional" antecipou que Paulo Roberto havia recebido US$ 1,5 milhão de propina por Pasadena.

Segundo o próprio delator, o valor foi depositado em seu favor entre 2007 e 2008 em uma conta no paraíso fiscal de Liechteinstein, onde esteve em viagem com Fernando Baiano.

Alan Marques - 2.dez.2014/Folhapress
Paulo Roberto Costa, na CPI mista da Petrobras, que investigou denúncias de corrupção na empresa
Paulo Roberto Costa, na CPI mista da Petrobras, que investigou denúncias de corrupção na empresa

Costa ficou em dúvida, mas disse acreditar que "este valor tenha sido bancado pela própria Astra Petróleo".

A revelação consta de um dos termos de depoimento prestados por Costa no acordo de delação premiada fechada com o Ministério Público Federal. No documento, o ex-diretor disse que "havia boatos na empresa de que o grupo de Nestor Cerveró, incluindo o PMDB e Fernando Baiano, teria dividido entre 20 e 30 milhões de dólares, recebidos provavelmente da Astra".

A Astra era a sócia da Petrobras em Pasadena. Depois de divergências sobre os rumos do negócio, a empresa estrangeira processou a estatal para fazer valer uma cláusula do contrato que obrigava a Petrobras a adquirir a parte que lhe cabia na parceria.

O ex-diretor contou que havia dúvidas sobre a viabilidade do negócio, que importaria um investimento, pela Petrobras, de US$ 1 bilhão ou US$ 2 bilhões. Mesmo assim, o negócio foi aprovado "por unanimidade" pelos dirigentes da estatal, incluindo o ex-presidente Sergio Gabrielli.

Costa revelou ainda que Fernando Baiano "tinha uma boa circulação entre todos os partidos, por exemplo, seu amigo José Costa Marques Bumlai era uma pessoa muito ligada ao PT".

Segundo o ex-diretor da Petrobras, Baiano tinha também proximidade com o presidente da holding empreiteira Andrade Gutierrez, Otavio Azevedo. Costa confirmou que havia um esquema de pagamento de propina na Diretoria Internacional, chefiada por Nestor Cerveró. Ele relacionou a empreiteira Andrade Gutierrez como uma das empresas que fazia pagamento ilegais.

"Cerveró tinha em Fernando Soares o operador que cuidaria de viabilizar a entrega da parte devida ao PMDB; [...] em certo momento os valores devidos como propina por esta empreiteira passaram a ser cobrados e geridos por Fernando Soares."

Por meio da assessoria de imprensa, a Andrade Gutierrez negou e repudiou as acusações, "baseadas em ilações" feitas por Costa. Afirma que não tem envolvimento com os fatos relacionados à investigação e que nunca fez parte da qualquer acordo de favorecimento envolvendo partidos e a Petrobras.


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