Folha de S. Paulo


Obras de arte apreendidas pela Lava Jato levam curiosos a museu do PR

Um discreto letreiro, no lado oposto às telas do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, avisa: "As obras desta sala foram apreendidas na Operação Lava Jato, realizada pela Polícia Federal em 2014".

Os visitantes se surpreendem. "Você viu isso?", um deles aponta e cochicha. Depois, percorrem a sala com os olhos, agora com mais atenção. Alguns foram ao local só por causa da Lava Jato.

As 15 obras, a maioria apreendida na casa da doleira Nelma Kodama, em março, estão sob a guarda do museu desde maio, por ordem da Justiça. Neste sábado (17), foram expostas pela primeira vez ao público.

Divulgação/MON
Tela de Di Cavalcanti, uma das 15 obras apreendidas na Lava Jato, expostas em museu do PR
Tela de Di Cavalcanti, uma das 15 obras apreendidas na Lava Jato, expostas em museu do PR

Pintadas por grandes artistas brasileiros, como Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Cícero Dias e Claudio Tozzi, elas foram adquiridas, segundo a PF, com recursos de lavagem de dinheiro, oriundos da corrupção na Petrobras.

Entre as telas apreendidas, havia até uma suposta obra do Renoir, que acabou não entrando na mostra porque peritos indicaram que era provavelmente falsa.

Proprietária da maioria das obras, Nelma Kodama chegou a afirmar à polícia que trabalhava com compra e venda de objetos de arte, atuando como "decoradora e designer de interiores".

Parceira do também doleiro Alberto Youssef, de acordo com as investigações, ela foi condenada a 18 anos de prisão por evasão de divisas, corrupção e operação de instituição financeira irregular, em processo oriundo da Operação Lava Jato.

Para o administrador Régis Rosa, 43, a exposição o fez ver as obras de arte com outra preocupação: quanto valeriam no mercado? Ele acredita em "muitos milhares de reais". "Acho triste que elas fiquem famosas pela corrupção, e não pela arte", afirma a assistente social Tânia Alencar Vieira, 50. "Quantos milhões nossos estarão ali?"

O Museu Oscar Niemeyer não soube precisar o valor das telas expostas. Informou que a avaliação de obras de arte é bastante subjetiva e depende de vários fatores, e que não chegou a fazer essa análise. A Polícia Federal também não estimou valores.

"Pelo menos bom gosto eles têm", comenta o professor de gastronomia Luiz Antônio Carmo, 29, que visitava a exposição com os pais.

A família foi ao museu especialmente motivada pelas obras da Lava Jato. "Vimos no noticiário", conta Luiz Antônio. "É uma oportunidade de ver o desdobramento da operação. E é apenas a ponta do iceberg", diz Luiz Otávio Carmo, 67, pai do professor.

'OSTENTAÇÃO'

As molduras das telas, boa parte pintada em dourado e bastante elaboradas, chamaram a atenção da família. "É a ostentação, um símbolo de exclusividade", comenta Luiz Antônio.

Entre as telas, uma chamava a atenção dos visitantes: a de Orlando Teruz, que mostra um circo rodeado de pessoas e animais. "É bem representativo do que estamos vivendo: uma farra", opina Márcia Carmo.

O destino final das telas ainda será definido pela Justiça. Até ordem contrária, permanecem no acervo do museu. A exposição ficará em cartaz até o início de março. O Museu Oscar Niemeyer funciona de terça a domingo, das 10h às 18h (ingressos a R$ 6 e R$ 3, meia-entrada).


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