Folha de S. Paulo


Cúpula do PMDB nega desgaste com prisão de ex-diretor da Petrobras

O comando do PMDB afinou o discurso para minimizar a vinculação do partido com o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso pela Polícia Federal nesta quarta-feira (14).

O ex-dirigente da estatal é suspeito de realizar movimentação financeira atípica depois de ser denunciado pelo Ministério Público Federal e responder a uma ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro.

PT e PMDB evitam assumir a paternidade da indicação de Cerveró para a diretoria Internacional da Petrobras, o que provocou uma queda de braço entre os partidos. Cerveró foi responsável pelo resumo executivo que embasou a decisão da compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela estatal, em 2006, o que deu início a crise envolvendo a empresa.

Questionado se a prisão traz algum desgaste para o PMDB, o vice-presidente, Michel Temer, garantiu que não. "Zero [desgaste]", afirmou.

O ex-ministro Geddel Vieira Lima reforçou o discurso para blindar a sigla. "Esse é um tema que tem que ser discutido na Polícia Federal, no Ministério Público, na Petrobras, no governo, não dentro do PMDB. Nós não temos absolutamente nada que debater a respeito do senhor Nestor Cerveró e da sua prisão".

Em delação premiada, o o executivo da empresa Toyo Setal Julio Camargo afirmou que o lobista Fernando Soares, apontado como operador do PMDB na Petrobras, intermediou contratos junto a Cerveró.

Segundo Camargo, o lobista, conhecido como Fernando Baiano, mantinha um "compromisso de confiança" com Cerveró. Na época, a defesa do ex-diretor afirmou que ele nunca recebeu pagamentos para fechar contratos da Petrobras.

O também ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, em depoimento à Polícia Federal no ano passado, disse que Cerveró que foi indicado ao cargo por um político e tinha ligação forte com o PMDB. A sigla nega.

Junior Pinheiro/Folhapress
Nestor Cerveró chega à sede do IML em Curitiba para exames de corpo de delito
Após ser preso, Nestor Cerveró chega à sede do IML em Curitiba para exames de corpo de delito

PRISÃO

Cerveró foi preso ao desembarcar de Londres, no aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro. Foi encaminhado a Curitiba (PR), chegou à Superintendência da PF por volta das 9h20 desta quarta e foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) para fazer o exame de corpo de delito, o que é praxe em casos de prisão.

O delegado Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, afirma que Cerveró fez essas movimentações financeiras para conseguir dinheiro vivo, e que isso poderia indicar duas coisas: ou o ex-diretor planejaria uma fuga, ou tentaria tornar seu patrimônio mais líquido, e dessa forma, o blindaria.

A prisão teve como fundamento "alguns negócios que ele fez posteriormente à saída do Brasil, negócios que financeiramente eram inviáveis e que indicavam a tentativa de liquidar o patrimônio para enviar ao exterior ou aplicar em outros negócios", disse.

OUTRO LADO

O advogado do ex-diretor, Edson Ribeiro, disse não haver razão para seu cliente estar detido e que, se a prisão fosse válida, "Graça Foster [presidente da Petrobras] também deveria ter tido a prisão decretada".

A presidente da estatal não é alvo de investigação na Lava Jato.

"Não estou imputando culpa a Graça Foster, mas, se o critério para a prisão de Cerveró foi ter transferido bens para filhos, o critério tem que valer para Graça, que também doou imóveis para os filhos. Ela também era da diretoria da Petrobras na época da compra dos 50% restantes da refinaria de Pasadena, assim como Cerveró era diretor na compra dos 50% iniciais. As decisões são tomadas pela diretoria. Se não vale para Graça, o Ministério Público está prevaricando."

"Não vejo motivos para sua prisão, uma vez que comuniquei à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal sua viagem e seu endereço no exterior", disse Ribeiro.


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