Folha de S. Paulo


PMDB dá apoio discreto a Cunha e Renan para comando do Congresso

Pedro Ladeira/Folhapress
Michel Temer chega à Presidência do PMDB na Câmara para a reunião de cúpula do partido
Michel Temer chega à Presidência do PMDB na Câmara para a reunião de cúpula do partido

O comando nacional do PMDB oficializou nesta quarta-feira (14) apoio às candidaturas do partido para as presidências da Câmara e do Senado.

O evento, programado como um recado político tanto para o governo quanto para a oposição, acabou de forma protocolar com um nota de apoio ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), candidato à Presidência da Câmara, e ao senador que for escolhido pela bancada do PMDB no Senado para disputar o cargo.

Na nota, a executiva nacional do PMDB nem sequer menciona o nome de Cunha, que já lançou oficialmente sua campanha desde dezembro. Também não cita o nome do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que articula a reeleição para a presidência do Senado, mas nos bastidores nega a candidatura.

A nota diz que o partido vai apoiar "o nome já escolhido de forma amplamente democrática pela bancada da Câmara para disputar a presidência da Casa", com postura semelhante em relação ao Senado.

Os deputados presentes à reunião queriam explicitar o nome de Cunha na nota para fortalecer o candidato, mas os senadores divergiram porque não queriam incluir o nome de Renan –já que o presidente do Senado não confirma oficialmente sua candidatura. Os peemedebistas acabaram optando por não mencionar o nome de Cunha, numa estratégia para preservar as articulações de Renan.

Renan e Cunha não participaram do encontro, realizado na Presidência do PMDB.

A cúpula do PMDB também não incluiu críticas à candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à Presidência da Câmara. O petista fez críticas a Cunha esta semana, o que irritou parte da sigla. O texto também não faz menção à movimentação de ministros em favor da candidatura do petista, o que também incomodou a bancada do PMDB.

Presidente do PMDB, o vice-presidente Michel Temer disse que o apoio vai ocorrer sem "nenhuma divergência". "Foi o único tema tratado nesta reunião para revelar a unidade do PMDB em torno dessa matéria", afirmou.

LAVA JATO

Questionado se o partido pode mudar de ideia caso Renan e Cunha sejam incluídos na lista do procurador-geral da República entre os políticos envolvidos na Operação Lava Jato, Temer disse que o PMDB "não discute hipóteses".

"Isso será uma coisa que será fruto da disputa. Se houver qualquer problema, cada um se explicará como vem se explicando, como deve explicar-se. Nós não discutimos hipóteses, nem chegamos a discutir hipóteses."

Renan e Cunha são apontados como favoritos para a cúpula do Congresso, mas tiveram suas candidaturas desgastadas depois de citados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras.

Os dois negam envolvimento com o caso. Cunha vê motivações políticas para o vazamento contra ele.

DIVERGÊNCIAS

O gesto do comando da legenda ocorre em meio a tensão com o Planalto e com a oposição no Senado.

Insatisfeito com a nova configuração da Esplanada dos Ministérios, o PMDB reclama de que pode não ter a chamada "porteira fechada" (referência a loteamentos de cargos e áreas a determinado partido) dos ministérios, ficando sem indicações de segundo escalão e correndo o risco de perder espaço de afilhados em postos como o Dnocs (Departamento Nacional de Obras contra as Secas).

Durante a reunião da executiva, deputados reclamaram da força dos ministros Cid Gomes (Educação) e Gilberto Kassab (Cidades) dentro do governo. Os dois articulam a criação de novos partidos, o que é interpretado no PMDB como estratégia para enfraquecer a legenda no Legislativo.

"Eu manifestei que estou preocupado com essa dobradinha Cid-Kassab na criação de novos partidos. Isso não engrandece o país", disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).

O ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) disse esperar que o Palácio do Planalto respeite as indicações do PMDB para presidir o Congresso. "Espero que o governo não se envolva contra uma candidatura de um partido que lhe dá sustentação", afirmou o peemedebista.


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