Folha de S. Paulo


Papéis de empresários revelam temores sobre operação

Ainda era abril quando o empreiteiro Ricardo Pessoa, presidente da UTC, escreveu num pedaço de papel: "Recado: o sentimento de Paulo Roberto é de total abandono".

Foi um dos primeiros sinais de preocupação que os empresários presos na Operação Lava Jato demonstraram ter com as investigações.

O bilhete se referia ao hoje delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras. Em 24 de abril, data da anotação, ele estava preso havia cerca de um mês –e cheio de informações sobre as licitações da estatal. Sua colaboração com a PF em troca da redução de pena ajudou a levar grandes empreiteiros à cadeia.

Papéis apreendidos nas casas e empresas dos investigados mostram as estratégias de defesa. "Desde o início da operação, eu tenho destacado que será necessário enfrentar acusações de lavagem de dinheiro e formação de cartel", alerta, em outubro, o advogado da UTC, Renato Tai, em e-mail a Pessoa.

"Ele [Paulo Roberto] derruba a Dilma. Derruba até o Obama, se bobear", diz o advogado Fernando Braga, defensor da contadora Meire Poza, em gravação. Ela trabalhava com o doleiro Alberto Youssef, principal operador financeiro do esquema.

O juiz Sergio Moro, da Justiça Federal do Paraná e responsável pelo caso, é um dos mais citados nas mensagens: "Perto dele, Joaquim Barbosa é uma Madre Tereza de Calcutá", diz num e-mail de outubro Pedro Paulo de Medeiros em mensagem a 26 criminalistas. Alguns deles atuam no caso, como Alberto Toron, advogado da UTC, e Marcelo Leonardo, da Mendes Júnior.

"Pra Deus e pra Moro, nada é impossível", diz Poza.

Os procuradores da força-tarefa que atua no caso também são citados. Em um documento, um funcionário da UTC diz que o advogado René Dotti, que assessora a Petrobras, os qualifica de "xiitas".

Na véspera do "Juízo Final", a última fase da Lava Jato, Ricardo Pessoa alerta pelo celular um colega da UTC: "Amanhã poderá ter café da manhã muito cedo aqui". Ele foi preso no dia seguinte.

Os documentos revelam a intimidade entre empresários e os operadores do esquema.

Youssef é apelidado de "Primo", por sua origem árabe, ou "Presi". O presidente da UTC o caracteriza como "extremamente agradável". Suas mensagens com Youssef eram mais formais: "Amigo Primo. Queria lhe agradecer pela parceria e lealdade. Desejo para você e sua família o maior sucesso e muitas felicidades e muita saúde em 2014", escreveu o empresário.


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