Folha de S. Paulo


Eduardo Cunha diz que rivais tentam tirá-lo de disputa na Câmara

O deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) reagiu à informação revelada pela Folha de que o Ministério Público Federal pedirá a abertura de investigação contra ele no âmbito da Operação Lava Jato, que investiga o esquema de desvio de recursos da Petrobras e lavagem de dinheiro.

Reportagem publicada nesta quarta-feira (7) mostra que a Procuradoria fará o pedido ao STF (Supremo Tribunal Federal) porque, segundo investigadores que atuam no caso, ele é suspeito de ter recebido dinheiro do esquema por meio do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o "Careca", que atuaria como um dos funcionários do doleiro Alberto Youssef.

Cunha, candidato à Presidência da Câmara, disse que há uma "clara tentativa" de prejudicar sua campanha.

"Isso é claramente uma tentativa política de atacar a minha candidatura,visando a criar constrangimentos para contrários se beneficiarem", escreveu no Twitter.

"É lamentável que oponentes meus usem desse expediente baixo tentando me desqualificar. Se a pólvora da bomba deles é dessa qualidade, será tiro de festim na água", afirmou. "Não vão me constranger com a divulgação de fatos inexistentes", completou.

O peemedebista disse que manterá sua candidatura, mas em quase 30 mensagens postadas no Twitter não apontou diretamente quem estaria por trás do que classificou de ação política para atacar sua campanha.

Segundo ele, aliados foram informados por opositores que haveria uma bomba contra sua candidatura.

O comando do PT negou participação em vazamento de informações da Lava Jato. Chinaglia disse que "preferia não comentar" a acusação contra seu adversário.

Desde o início da corrida, ele tem enfrentado resistências do Planalto e usa como principal bandeira para conquistar o cargo máximo da Câmara a independência do Parlamento. Os adversários de Cunha são Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Julio Delgado (PSB-MG).

Cunha sempre foi visto como mais alinhado à oposição do que ao Planalto. Embora comandasse o maior partido da base, armou rebeliões, mediu forças e valorizou a oposição no Congresso.

De acordo com investigadores, ele é suspeito de ter recebido dinheiro do esquema por meio do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, que atuaria como um dos funcionários do doleiro Alberto Youssef.

No depoimento do policial, ao qual a Folha teve acesso, Careca afirma ter levado dinheiro "duas ou três vezes" a uma casa no Rio de Janeiro que, segundo teria ouvido do doleiro, era a de Cunha.

"Nessa casa fui atendido e entreguei o dinheiro ao proprietário, mas não posso afirmar com certeza que seja Eduardo Cunha", afirma o policial, segundo a transcrição do depoimento, afirmando ainda que não se recorda das feições do homem que teria recebido o dinheiro.

Na segunda (5), Careca' peticionou uma retificação na PF sobre o endereço que informou no depoimento ser de Cunha, segundo Youssef.

O agente afastado reafirmou não poder afirmar "efetivamente'' que o proprietário do imóvel que recebeu a encomenda era o deputado. A defesa de Jayme Filho divulgou nota afirmando "rechaçar o vazamento seletivo e deturpado de informações".

Apesar do silêncio em público, nos bastidores aliados de Chinaglia avaliaram que a suspeita de envolvimento de Cunha na Lava Jato impulsiona o nome do petista, desobriga o Planalto de tentar costurar um entendimento com o aliado e acaba com a tese de que a corrida pelo comando da Câmara estava resolvida.

Na semana passada, ministros palacianos chegaram a procurar o líder do PMDB para ensaiar um acordo, mas não houve consenso. Segundo relatos, Cunha subiu o tom e demonstrou incômodo com a disposição da equipe de Dilma de interferir na sucessão.

O episódio tem potencial para piorar o desgaste entre o Planalto e a cúpula do PMDB, que vê movimentos do governo para tentar enfraquecer a legenda.

"É perigoso para o governo tentar enfraquecer o PMDB. A nossa reação é sempre proporcional ao nosso tratamento", disse um dos aliados do peemedebista, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Editoria de Arte/Folhapress
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