Folha de S. Paulo


Comunista assume governo e encerra 50 anos de poder dos Sarney no MA

Ao tomar posse como governador do Maranhão, nesta quinta-feira (1º), o ex-juiz federal e ex-deputado Flávio Dino, do PC do B, encerra a hegemonia de quase 50 anos do grupo político liderado pelo senador José Sarney (PMDB-AP).

O novo mandatário, no entanto, não receberá a faixa da antecessora Roseana Sarney (PMDB), que renunciou ao cargo no último dia 10, menos de um mês antes de concluir o mandato.

A peemedebista alegou "recomendações médicas" para a decisão, que políticos maranhenses atribuíram a um desejo dela de não transmitir o cargo ao adversário.

A saída da governadora ocorreu em meio a uma transição já conturbada. A equipe de Dino reclama por não ter recebido informações suficientes sobre a situação financeira do Estado e critica medidas tomadas no final da gestão Roseana que terão impacto no novo governo.

Um exemplo dessas ações foi a publicação de um edital que informava que 12 dos 24 coronéis da Polícia Militar deveriam se afastar por até dois anos para curso de aperfeiçoamento fora do Maranhão, em meio a uma crise de segurança pública no Estado.

Ataques de criminosos a ônibus e as 79 mortes registradas em 2013 e 2014 dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas foram alguns dos temas que dominaram a campanha eleitoral.

Para tentar solucionar os problemas dessas duas áreas, Dino buscou inspiração em outros Estados.

Prometeu implantar o programa de segurança Pacto pela Vida, do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), e nomeou para o comando do sistema penitenciário maranhense Murilo Andrade, ex-subsecretário de Administração Prisional de Minas Gerais –Estado governado pelo grupo político do PSDB.

A montagem do secretariado refletiu a aliança pragmática que garantiu a vitória de Dino, ainda no primeiro turno, contra o candidato da situação, Lobão Filho (PMDB).

Entre os nove partidos que o apoiaram estão justamente o PSDB de Aécio Neves e o PSB de Marina Silva, além de antigos aliados de Sarney.

O ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB), que rompeu com o senador em 2004, será o secretário de Minas e Energia. O também pessebista Marcelo Tavares, coordenador da campanha e sobrinho de José Reinaldo, assumirá a Casa Civil.

Uma de suas primeiras medidas é simbólica contra a hegemonia dos Sarney no Estado: bens públicos não poderão mais receber o nome de pessoas vivas.

O ex-presidente José Sarney e sua família dão nomes a bibliotecas e obras viárias em todo o Maranhão. Só em escolas, são 160 com o sobrenome Sarney em todo os Estado.

'COMUNISMO BURGUÊS'

A ala petista que contrariou a direção nacional do partido –que estava com Lobão Filho– e apoiou Dino também foi contemplada no secretariado.

Ex-presidente da Embratur no governo Dilma, Flávio Dino é o primeiro governador eleito pelo PC do B no país.

Na campanha, enfrentou a "acusação", feita pelo PMDB, de que implantaria o comunismo no Estado. Em resposta, prometeu fazer uma "revolução burguesa" e "levar o capitalismo" ao Maranhão.


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