Folha de S. Paulo


'PMDB não tem operador em esquema na Petrobras', diz Eduardo Cunha

Favorito na disputa pela presidência da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirma que congressistas envolvidos no esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato que forem alvo de processo de cassação "dificilmente" terão o mandato poupado pelo plenário.

Em entrevista à Folha, o líder do PMDB negou ligação do partido com o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador da legenda no esquema de desvios na Petrobras.

Cunha diz não temer que uma "bala de prata" relacionada ao caso possa atingir sua campanha. "Estou escutando isso há dois meses e rio toda vez. E continuarei rindo."

Sérgio Lima/Folhapress
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), candidato à presidência da Câmara dos Deputados
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), candidato à presidência da Câmara dos Deputados

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Folha - A Lava Jato já fez sua primeira vítima na Câmara com a cassação de André Vargas. Haverá mais cassações?
Eduardo Cunha - Não tenho condição de te dizer isso. É uma instituição que funciona segundo suas normas, o regimento e a Constituição. Você não vai conseguir dizer que o presidente da Câmara terá o poder de fazer ou não fazer.
Se você tem uma denúncia e essa denúncia for feita por um partido, isso terá que tramitar no Conselho de Ética, à revelia de qualquer um. O conselho julgando a denúncia, não caberá a ninguém fazer qualquer outra coisa que não submeter ao plenário.
Agora, é preciso cuidado. Ter algum tipo de denúncia no Supremo não significa que haja quebra de decoro. Há vários parlamentares que respondem a ações no STF e nem por isso elas implicaram processos de cassação.

Sérgio Lima/Folhapress

O que ocorreu com Vargas, já que não há processo criminal?
Ali se entendeu que ele quebrou o decoro, e foi esse o objeto da representação.

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Vargas diz que foi cassado por ter usado o jatinho do doleiro Alberto Youssef. Foi injusto?
Eu não tenho condição de avaliar, até porque, com muita sinceridade, eu não vi o detalhamento do processo. A maioria da Casa não leu o processo e acabou referendando o parecer do Conselho de Ética. Não tenho condições de prejulgar ninguém. [Cunha votou a favor da cassação.]

O voto aberto foi decisivo?
Não há dúvida de que permitiu que a cassação fosse feita. Talvez o voto fechado não tivesse o mesmo resultado.

O que vai resultar em processo de cassação em 2015?
Tudo que for ao plenário com parecer do Conselho de Ética pela cassação dificilmente será evitado.

Jorge Zelada, indicado pelo PMDB para uma diretoria da Petrobras, é acusado de estar envolvido no esquema. O partido não teme as denúncias?
O fato de ter pessoas indicadas pelo partido A, B, ou C não significa que esses partidos tenham dado orientações para cometer coisas erradas. Esse diretor foi indicado por um deputado falecido [Fernando Diniz], coordenador da bancada de Minas Gerais.

Mas o PMDB manteve Zelada.
Sim. Ninguém está criticando isso. Pelo que vi, as denúncias não foram pela gestão dele no cargo indicado pelo PMDB, e sim pela gestão anterior, quando era gerente da área de Renato Duque.

Os investigadores dizem que o lobista Fernando Soares é um operador do PMDB no esquema. Qual sua relação com ele?
Em primeiro lugar, o PMDB não tem operador. Não teve, não tem e não terá. Segundo, nas notícias que estão surgindo, vejo uma qualificação que ele desmente, o advogado desmente, não tem um fato o ligando ao PMDB. No entanto, ficam sempre com o rótulo de operador do PMDB.

É o que diz a investigação.
Sim, mas é porque já vem nas delações, nos depoimentos feitos pelo doleiro [Alberto Youssef] e pelo ex-diretor [Paulo Roberto Costa]. Mas não se diz para quem do PMDB, que tipo de operação. E ele [Baiano] desmente. A denúncia fala de atuação em uma diretoria do Nestor Cerveró, que já estava lá havia muitos anos e foi indicado pelo PT. Não foi pelo PMDB.

Há quem diga que Cerveró foi indicado pelo PMDB.
Todo mundo sabe que Zelada substituiu Cerveró, que acabou indo para a diretoria financeira da BR Distribuidora indicado pelo mesmo padrinho, que é o PT.
Quem conhece a política sabe que foi uma luta quando o PMDB nomeou [Zelada] para tirá-lo [Cerveró]. Se ele fosse operador do PMDB e o diretor fosse indicado pelo PMDB, não teria caído para outro indicado do PMDB.
O Cerveró não tem qualquer relação com o PMDB. O apoiador dele no PT é que efetivamente pode ter conquistado apoios para a sua manutenção. Tem que perguntar para esse apoiador.

E quem é?
Não sei. Você devia perguntar ao ex-presidente [da Petrobras] à época, talvez ele saiba, o [José Sergio] Gabrielli. Ou o [ex-presidente do PT e da Petrobras José Eduardo] Dutra, porque ele [Cerveró] era diretor com o Dutra.

Dilma Rousseff sabia das irregularidades na Petrobras?
Acredito que Dilma não tem envolvimento e não me parece ser o perfil dela. Pode-se ter qualquer crítica a ela, mas ninguém nunca falou da sua honestidade. Não acredito que fosse conivente. Pode ter tido visão equivocada sobre forma de gestão e de tipos de investimentos, mas não [ligação com] irregularidades.

A presidente da Petrobras, Graça Foster, e a atual diretoria deveriam ser substituídas?
Não porque haja suspeição sobre Graça, embora você tenha um diretor financeiro [Almir Barbassa] que está lá durante todo o processo, há muitos anos. E um ex-presidente da Petrobras, o José Eduardo Dutra, como diretor.
Tem pessoas envolvidas desde o primeiro momento. A própria Graça era diretora, fazia parte das reuniões que aprovaram a maioria desses investimentos. De uma certa forma, independentemente ou não de terem culpabilidade, para o mercado [a troca] é um sinal de credibilidade.

Se for eleito, como conduziria um eventual pedido de impeachment de Dilma?
O regimento e a Constituição serão sempre nosso lema e guia. Não acho correto tratar processo de impeachment assim. Da minha parte não tem apoio. Mas, mesmo que eu não apoie, a Câmara e o regimento têm formas de tratar o assunto. Eu não apoio e acho que é golpe. Qualquer tentativa de impeachment de quem não assumiu é tentar desvirtuar o resultado eleitoral.

O financiamento público, como o PT defende, é a solução para o escândalo da Lava Jato?
Incrível. Se tem uma corrupção, não quero acusar, que está sendo atribuída em grande parte ao PT, como a tese do próprio PT acaba ganhando? É uma contradição absurda. Defende porque tem uma máquina enorme, arrecadação partidária e fonte de financiamento que independe de captação eleitoral. Teve a maior arrecadação no ano pré-eleitoral. O financiamento público só beneficia o PT.
Eu temo a discussão perigosa pela criminalização do financiamento privado e que só o público vai salvar. E não vai, vai é gerar caixa dois.

Há alguma negociação para o PT apoiar sua candidatura?
Por mim, não. Se alguém está fazendo articulação é à minha revelia. Não faremos acordo de rodízio como aconteceu na legislatura passada, a Casa não aceita. PT e PMDB têm 135 deputados. Não vamos achar que nós 135 combinaremos o que 513 farão.
Estou construindo a minha candidatura, cabe a eles [PT] construírem a deles. Não tenho nada contra Arlindo Chinaglia [PT-SP, também candidato]. O problema é que a Casa não quer o PT presidindo porque ele já tem a hegemonia do Executivo. O PMDB não apresentará candidato no segundo biênio. Para mostrar que o PMDB não busca a hegemonia.

Há o risco de alguma bala de prata da Lava Jato atingir o sr.?
Estou escutando isso há dois meses e rio toda vez. E continuarei rindo. Eu estou absolutamente tranquilo.

O sr. promete uma presidência paz e amor?
Prometo presidência independente, altiva e forte. Que a gente possa fazer a vontade do Parlamento. Chega de baixar a cabeça para o governo. Mas garantir a governabilidade do governo, que foi eleito para isso. Não vai ser nem paz e amor nem guerra. Será correta.

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RAIO-X

h2. EDUARDO CUNHA, 56
* FORMAÇÃO Economia

  • CARREIRA Foi presidente da Telerj (1991-1993), sub-secretário de Habitação do governo do Rio (1999), presidente da Companhia Estadual de Habitação (1999-2000) e deputado estadual (2001-2003). Na Câmara desde 2003, é líder do PMDB e can-didato a presidente da Casa

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