Folha de S. Paulo


Justiça barra indicação de mulher de 'ficha-suja' para o TCE de Mato Grosso

A Justiça de Mato Grosso determinou a suspensão da sabatina na Assembleia Legislativa, prevista para a tarde desta terça-feira (16), que formalizaria a indicação da pecuarista Janete Riva (PSD) ao cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Ela, que já foi presa pela Polícia Federal em 2010 por crimes ambientais, é mulher do deputado estadual José Geraldo Riva (PSD), réu em mais de 100 processos por improbidade administrativa.

O juiz Luis Aparecido Bertolucci Júnior acatou a ação civil pública proposta pelo Ministério Público Estadual e fixou multa de R$ 20 milhões em caso de descumprimento da decisão liminar. A Mesa Diretora da Assembleia informou que a Procuradoria da instituição irá recorrer da decisão junto ao Tribunal de Justiça.

Reprodução/Facebook/JaneteRiva55
Janete foi candidata ao governo de MT no lugar do marido, barrado pela Lei da Ficha Limpa
Janete foi candidata ao governo de MT no lugar do marido, barrado pela Lei da Ficha Limpa

Bertolucci Júnior também determinou que o governador Silval Barbosa (PMDB) não nomeie Janete ao cargo e que o presidente do TCE, Waldir Júlio Teis, não a emposse, até o julgamento do mérito da liminar. A determinação implica multa de R$ 5 milhões, para cada um, em caso de descumprimento. Silval é aliado da família Riva, ao contrário do governador eleito Pedro Taques (PDT), que considera um "absurdo" a escolha dela para o cargo.

Na ação, assinada pelo procurador-geral de Justiça, Paulo Prado, a Promotoria argumenta que Janete –escolhida por 15 dos 24 deputados a ocupar a vaga de conselheiro, em aberto desde a renúncia de Humberto Bosaipo (DEM), no dia 9 de dezembro, não possui reputação ilibada e não atende aos requisitos necessários para assumir o cargo.

"É certo que as constituições federal e estadual exigem notórios conhecimentos naquelas áreas do saber, conhecimentos que, obviamente, não são fornecidos senão no terceiro grau de escolaridade, ou seja, nas faculdades das respectivas áreas", pontua o juiz na decisão.

Pela legislação, é necessário que o indicado ao TCE comprove o conhecimento nas áreas jurídica, contábil, econômica e financeira. Janete, que já foi secretária de Cultura de Mato Grosso e candidata ao governo na última eleição, possui apenas o ensino médio.

A pecuarista também responde a processos por formação de quadrilha, desmatamento ilegal e trabalho escravo. Ela nega todas as acusações e afirma ser vítima de perseguição política.

A sabatina é o último ato antes do nome do escolhido pelos deputados ser nomeado pelo governador, para o indicado tomar posse do cargo de conselheiro do TCE.

O TCE de Mato Grosso é composto por sete conselheiros -quatro são indicados pela Assembleia e o restante, pelo governador. O cargo é vitalício e o salário é de cerca de R$ 30 mil.


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