Folha de S. Paulo


Comissão responde a carta de família de general morto

A Comissão Nacional da Verdade divulgou nota na noite desta quinta-feira (11) para responder a texto produzido pela família de general Leo Guedes Etchegoyen.

O militar, já morto, foi um dos responsabilizados por graves violações aos direitos humanos no relatório final da comissão, publicado na quarta (10).

Mas, para a família, a responsabilização foi um ato covarde e leviano, pois não fundamentado em evidências concretas.

"Jamais fomos contatados por qualquer integrante ou representante daquela comissão", diz o texto assinado por familiares, dentre eles um general da ativa do Exército, Sérgio Etchegoyen, filho de Leo.

A carta da família Etchegoyen foi revelada pelo site do jornal "O Estado de S.Paulo".

"Ao apresentar seu nome, [...] sem qualquer vinculação a fatos e vítimas, os integrantes da CNV deixaram clara a natureza leviana de suas investigações [...]. Ao investirem contra um cidadão já falecido, sem qualquer possibilidade de defesa, instituíram a covardia como nome e a perversidade como técnica acusatória. [...] A CNV apontou um culpado para um crime que não identifica, sem qualquer respeito aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa", afirma o texto.

Em sua nota, a CNV detalha a trajetória do general e explica o motivo de ter incluído Leo na lista de responsáveis.

De acordo com a comissão, "após o golpe de 1964, Leo Guedes Etchegoyen assumiu a chefia da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, período no qual recebeu Daniel Anthony Mitrione, notório especialista norte-americano em métodos de tortura contra presos políticos, para ministrar curso à Guarda Civil do Estado, realizado no período de 19 a 26 de junho."

Em 28 de dezembro de 1979, afirma a comissão, Leo "na qualidade de chefe do Estado Maior e supervisor das atividades do DOI-CODI, fez calorosos elogios aos serviços prestados pelo Tenente-coronel Dalmo Lúcio Muniz Cyrillo, chefe do DOI-CODI/II Exército".

Cyrillo atuou no DOI-CODI do II Exército, lembra a nota, "como chefe de equipes de interrogatório [momento em que a maior parte das torturas era feita], tendo desempenhado a função de Sub-comandante nos períodos de Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel."

Depois, em 1980, quando Leo era chefe do Estado Maior do II Exército, "seu comando esteve vinculado ao planejamento da prisão coletiva de sindicalistas e lideranças dos metalúrgicos da região metropolitana de São Paulo conhecida como ABCD, bem como do sequestro de integrantes de organizações de direitos humanos que prestavam solidariedade a esses trabalhadores, como os advogados José Carlos Dias –então presidente da Comissão Justiça e Paz (CJP) da Arquidiocese de São Paulo– e Dalmo Dallari –ex-presidente da CJP–, prisões efetuadas com violência, sem mandado de prisão e sem a devida comunicação às suas famílias."

Segundo a comissão, "a operação contra líderes do movimento sindical do ABCD e integrantes da Comissão Justiça e Paz foi planejada pelo comando do II Exército e executada por agentes do DOI-CODI, do DEOPS/SP, DPF/SP, ocasião em que Etchegoyen era o chefe do Estado Maior do II Exército."

A Folha não conseguiu localizar a família Etchegoyen. O Exército afirmou que não comentaria o caso, por se tratar de um aspecto pessoal do general da ativa Sérgio.


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