Folha de S. Paulo


Ceifaram um pedaço de minha vida, diz Vargas após cassação

Cassado pelo plenário da Câmara dos Deputados, André Vargas (sem partido-PR) disse à Folha nesta quarta-feira (10) que ''ceifaram um pedaço'' de sua vida com a decisão.

Ele é acusado de envolvimento com um dos pivôs do escândalo de desvio de recursos da Petrobras.

O deputado federal, que está em São Paulo, afirmou que a cassação será ''mais um parâmetro para os demais julgamentos que virão com a delação premiada".

Vargas afirma ainda que a situação é ''muito dolorida'' e que pretende arrumar um trabalho e cuidar de sua família. ''Seguir em frente''.

Com a cassação, ele não poderá disputar eleições até 2022, como determina a Lei da Ficha Limpa.

Editoria de Arte/Folhapress

A perda do mandato foi aprovada, em votação aberta, por 359 votos –eram necessários 257 votos. Também foi registrado um voto contrário à perda do mandato e seis abstenções.

TENTATIVAS

A cassação ocorreu apesar de inúmeras tentativas de Vargas para escapar da perda do mandato. Aliados do ex-deputado procuraram derrubar a sessão.

Aliado de Vargas, o deputado José Mentor (PT-SP) chegou a aproveitar um tumulto e declarou o encerramento da reunião por falta de quorum. Ainda faltavam duas horas para o fim do prazo regimental da reunião. A ação irritou o relator do processo de cassação, deputado Julio Delgado (PSB-MG), o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PSD-SP), e líderes da oposição, que pediram a reabertura dos trabalhos ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

Antes disso, Vargas havia tentado evitar a análise do seu pedido de cassação. Chegou a apresentar um atestado de que foi submetido a uma cirurgia odontológica, coisa que o impedia de falar para "tentar provar sua inocência" para seus pares. Além do atestado, ele enviou imagens comprovando o procedimento cirúrgico.

Vargas então solicitou que a votação fosse adiada para depois do próximo dia 16, a um dia do encerramento dos trabalhos do plenário antes do recesso parlamentar. Se conseguisse evitar a cassação até o recesso, seu mandato terminaria narutalmente e ele não seria enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

Além disso, o ex-deputado tentou a via judicial. Recorreu a STF para tentar adiar a análise da cassação e teve o pedido negado no início da tarde.

Para evitar que sua cassação fosse votada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados, para onde havia recorrido depois que o Conselho de Ética da casa recomendou a cassação, Vargas costurou um acordo informal com parlamentares aliados –principalmente do PT e PMDB– levando a comissão a adiar a discussão do caso seis vezes. Por isso, quase dois meses se passaram até que o processo chegasse no plenário da Câmara.

YOUSSEF

Além de ter viajado com a família em um jatinho emprestado pelo doleiro Alberto Youssef, pivô do escândalo da Petrobras, Vargas também é suspeito de intermediar interesses de empresas fantasmas do doleiro em contratos com o Ministério da Saúde.

Vargas deixou o PT logo após o escândalo vir a público. Ele chegou a pensar em renunciar, mas desistiu. O partido pediu seu mandato na Justiça Eleitoral, mas o gesto foi interpretado como mais uma manobra para tentar evitar que ele fosse enquadrado na Lei da Ficha Limpa. O TSE ainda não tinha se manifestado sobre o caso.


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