Folha de S. Paulo


Índios fecham ferrovia da Vale que liga Minas ao Espírito Santo

Índios da etnia krenak bloqueiam desde o fim da tarde de terça-feira (9) a linha férrea Vitória-Minas, no município mineiro de Resplendor (MG), a 440 km de Belo Horizonte e próximo à divisa com o Espírito Santo.

De acordo com a Vale, empresa que administra a ferrovia, os índios reivindicam repasse de R$ 3 milhões e saída da área de uma equipe técnica que implementa projeto de pecuária leiteira, entre outras demandas.

A reportagem não conseguiu contato com representantes dos indígenas até a publicação desta notícia.

Na terça-feira, um funcionário da Vale chegou a ficar refém dos índios, que o levaram até o local da ocupação da ferrovia. Ele foi liberado nesta quarta-feira (10), segundo a assessoria da empresa.

O bloqueio permanece no local no início da tarde desta quarta (10) e impede a saída de trens de passageiros que ligam Belo Horizonte a Cariacica, na região metropolitana de Vitória.

Além da suspensão por "tempo indeterminado" do trem de passageiros, o transporte de carga também foi interrompido.

O trem de passageiros circula diariamente nos dois sentidos (BH-Vitória e Vitória-BH). Segundo a Vale, cerca de 3.000 pessoas usam o transporte todos os dias.

A empresa afirma que está informando os passageiros sobre o problema e que está devolvendo o dinheiro das passagens ou remarcando os bilhetes, de acordo com a disponibilidade.

A mesma ferrovia chegou a ser fechada pelos índios no sábado (6), quando os trens com passageiros já haviam saído das estações. Isso obrigou a Vale a providenciar ônibus para levar os passageiros ao destino final.

A Vale afirma que a ferrovia não está em território dos krenak e que, por isso, não tem responsabilidade pelas reivindicações dos índios, mas que participa das negociações porque a ferrovia é vizinha à terra dos indígenas.

REIVINDICAÇÕES

Em nota, a Vale afirma que enviou representantes na segunda (8) para negociar com os índios, mas que não houve acordo entre as partes. Os índios, segundo a nota, não querem a participação de representantes dos órgãos públicos envolvidos na questão.

"Além do apoio já prestado pela Vale, as reivindicações dos indígenas envolvem também repasse financeiro no valor de R$ 3 milhões ainda este ano; a saída da equipe técnica que apoia a implementação do projeto de pecuária leiteira; e a não participação da Funai e do Ministério Público Federal nesse processo", diz a nota.

"Cabe destacar que o acordo em questão é uma liberalidade, mas, ainda assim, durante várias reuniões com a Vale, com o Ministério Público Federal e com a Funai, os indígenas se mostraram inflexíveis diante das propostas apresentadas", completa.

A empresa diz que manterá relação "transparente e participativa" com o povo krenak, "mantendo uma relação construtiva, respeitando suas características próprias e a legislação vigente".

A Vale condenou o bloqueio da ferrovia, classificando-o de um "crime", e disse que repudia manifestações violentas que coloquem em risco "seus empregados, passageiros, suas operações e que firam o Estado democrático de Direito".

A reportagem não conseguiu contato com a coordenação da Funai em Minas Gerais.


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