Folha de S. Paulo


Armazenagem errada coloca em risco R$ 1 bi em máquinas

Quase R$ 1 bilhão em equipamentos como válvulas, bombas, tubos e comportas da obra de transposição do rio São Francisco estão armazenados de forma imprópria, com risco de que se danifiquem antes mesmo do início de seu funcionamento.

O material está no chão ou em locais sem proteção, com risco de ratos, aves e insetos estarem fazendo ninhos em máquinas que custam mais de R$ 10 milhões. Essa é a constatação de uma inspeção feita pelo TCU (Tribunal de Contas da União) este ano nos locais onde esse equipamentos estão guardados, alguns há quase quatro anos.

Fiscalizações anteriores do TCU já apontaram sobrepreço nas obras do projeto que começou em 2007 orçado em R$ 4,5 bilhões e já está custando quase R$ 8 bilhões.

Joel Silva - 6.nov.2014/Folhapress
Trecho inicial da obra de transposição em Petrolândia (PE)
Trecho inicial da obra de transposição em Petrolândia (PE)

Os equipamentos necessários para controlar o fluxo da água nos canais foram comprados há cerca de cinco anos porque os contratos previam que a construção dos canais e estações elevatórias ficariam prontos em 2010.

Como as obras ainda estão em andamento (a previsão agora é que terminem entre 2015 e 2016), os equipamentos para controlar a água –que foram compradas de companhias diferentes das construtoras– tiveram que ser guardados pelas empreiteiras, que são responsáveis pela montagem deles.

Mas o contrato dessas empresas não previa que elas tivessem custos para tomar os cuidados necessários de armazenamento descritos nos manuais das máquinas.

Algumas precisam ficar guardadas numa posição específica para que não empenem. Ou que sejam passados produtos periodicamente para evitar corrosão e esfarelamento de borrachas.

Como não há no contrato com as construtoras previsão para esse tipo de serviço, os equipamentos estão jogados nos canteiros de obras, alguns até abertos ao público.

Num relatório fotográfico ao qual a Folha teve acesso, equipamentos eletrônicos estão guardados sob o telhado de um posto de combustível que virou canteiro de obra.

O relatório diz que as condições de armazenamento não obedecem manuais dos fabricantes e são impróprias.

"Destacam-se equipamentos dispostos diretamente sobre o solo e em local aberto, quando deveriam ser armazenados cobertos e a uma distância mínima do chão; falta de precauções contra ações de insetos e animais roedores, bem como contra excrementos de aves", diz o texto.

Numa foto, uma unidade hidráulica que vai servir para bombear água do eixo leste está completamente tomada por excrementos de aves.

Segundo o TCU, o Ministério da Integração Nacional, responsável pela transposição, já vinha sendo alertado sobre os problemas de armazenamento pelas empresas contratadas para supervisionar as obras, mas nenhuma providência foi tomada.

O ministro responsável pelo processo, Raimundo Carreiro, considerou a situação grave e determinou à pasta que resolva o problema em 60 dias. Outra preocupação do órgão é com a garantia das máquinas, já que elas correm o risco de não funcionar como deveriam após instaladas.

"Acrescentamos também uma determinação para que seja garantido que os produtos estarão na garantia quando começarem a funcionar", disse Carreiro.

O Ministério da Integração Nacional disse que não poderia se manifestar porque não foi notificado oficialmente pelo TCU. A Folha enviou o relatório ao órgão.


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