Folha de S. Paulo


Não há sinais de que Jango tenha sido envenenado, diz equipe de peritos

Não há sinais de que o ex-presidente João Goulart (1919-76), o Jango, tenha sido envenenado, concluiu de maneira consensual uma equipe de peritos coordenada pela Polícia Federal, que anunciou os resultados nesta segunda-feira (1º), após mais de um ano de trabalho.

Os especialistas analisaram laudos produzidos por laboratórios estrangeiros sobre os restos mortais do presidente, cuja deposição deu início à ditadura militar (1964-85).

Ainda assim é impossível descartar completamente que um envenenamento tenha ocorrido, visto que a passagem do tempo pode ter apagado vestígios de substâncias tóxicas, afirmou Jeferson Evangelista Corrêa, perito da PF.

É possível, mas não certo, que Jango tenha de fato morrido de enfarto, como se supõe. Cardiopata, ele morreu durante o exílio na Argentina, mas seu cadáver nunca passou por uma autópsia. Desde os anos 1980, havia a suspeita de que agentes trabalhando para a Operação Condor, ação conjunta de ditaduras do Cone Sul para assassinar opositores, trocaram medicamentos de Jango por algum tipo de veneno.

Após determinar que o caixão de Jango não fora violado, e que o DNA dos restos mortais de fato pertenciam a ele, a equipe testou então se havia no esquife resquícios de substâncias suspeitas. Os peritos pesquisaram a presença de cerca de 700 mil substâncias no esquife e nos restos mortais, mas nenhuma foi encontrada.

O processo foi iniciado pela família de Jango, a qual pode acompanhar todos as etapas do processo com a exumação dos restos mortais.

O Ministério Público Federal ainda tem uma investigação aberta sobre a morte do ex-presidente.

O ministro Edison Lobão (Minas e Energia), que em 2008 chegou a elogiar a ditadura, surpreendeu ao participar do divulgação dos resultados. Ele contou sobre sua convivência com Jango e saiu logo no final do evento.

Questionada, a ministra Ideli Salvatti (Direitos Humanos) afirmou que só o próprio Lobão poderia dizer por que aparecera. João Vicente Goulart, filho de Jango, também se disse surpreso com a presença de Lobão. "Mas são coisas da democracia. Melhor ele do que o outro Lobão", brincou ele, sobre o músico Lobão, crítico contumaz do governo de Dilma Rousseff.

Sergio Lima/Folhapress
João Vicente Goulart, filho de Jango, recebe relatório da ministra dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti
João Vicente Goulart, filho de Jango, recebe relatório da ministra dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti

HONRARIAS

Os restos mortais do ex-presidente foram exumados em novembro do ano passado, em São Borja (RS), terra natal da família Goulart. Todo o processo foi acompanhado pela então ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, e recebeu honrarias de chefe de Estado.

Quando morreu, nos anos 1970 —auge do regime militar—, Jango foi enterrado às pressas. No ano passado, Maria do Rosário disse que o corpo foi recebido na época "pelo povo" nas ruas, mas, por ordens da ditadura, o caixão foi transportado de maneira "desrespeitosa".

A causa da morte de Jango está sendo investigada, ainda, pela Comissão Nacional da Verdade.

Editoria de Arte/Folhapress

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