Folha de S. Paulo


Deputado fez ameaças, afirmam executivos

Dois executivos da empresa Unipar Carbocloro, de São Paulo, afirmaram em depoimentos terem sofrido pressões do doleiro Alberto Youssef para pagamento de valores sem a prestação de serviço.

Eles disseram que pagaram cerca de R$ 812 mil após ameaças de Youssef e do deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010.

Ao mapear os pagamentos recebidos pelas empresas de Youssef, a força-tarefa do Ministério Público e da Polícia Federal do Paraná encontrou três depósitos da Unipar Participações na conta da MO Consultoria e da LCD Informática de dezembro de 2008 a abril de 2009.

Conforme a investigação, as empresas foram criadas pelo doleiro para receber recursos do esquema de desvios da Petrobras. O dinheiro que entrava nas empresas era depois sacado ou transferido para outras contas com o objetivo de pagar propina a agentes públicos, diz a PF.

A Polícia Federal deu um passo na investigação ao tomar o depoimento, em outubro, do contador José Octavio Vianello de Mello, que trabalhou na Unipar de 2001 a março de 2014 como diretor financeiro, vice-presidente e presidente-executivo.

Ele contou que o controlador da Unipar, Frank Geyer Abubakir, recebeu de Janene em 2008 proposta de ajuda financeira de "um fundo árabe que pretendia adquirir participação da Unipar e por consequência da Quattor", empresa que tem como acionistas a Unipar e a Petrobras.

Mello disse ter sido procurado logo depois por Youssef, que informou existir "um custo de contratação" para "a intermediação do negócio e prestação de serviços de consultoria". Com a anuência de Abubakir, disse, a Unipar começou a pagá-lo, mas "nenhum serviço" foi prestado.

A firma resolveu parar de pagar. Em resposta, disse Mello, Janene o "pressionou" a continuar "o pagamento acordado". Abubakir também teria sido pressionado. Foram feitos então mais dois depósitos até maio de 2009.

Uma semana depois de ouvir Mello, a PF tomou o depoimento de Abubakir, que também alegou pressões e confirmou os pagamentos.

Ele disse que a promessa de Janene e Youssef era obter US$ 250 milhões de um grupo árabe. Janene teria o papel de "conselheiro" no negócio. Abubakir contou que, ao suspender os pagamentos a Youssef, Janene o recebeu em seu escritório "de maneira agressiva", com o "dedo em riste", acusando-o de ser "moleque" e ameaçando "acabar" com a vida dele.

O advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, não foi encontrado para comentar. Ele tem negado as acusações de que seu cliente extorquiu ou pressionou empresários. O doleiro fechou acordo de delação premiada, mas o conteúdo de suas declarações é sigiloso.


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