Folha de S. Paulo


Relator do caso Pasadena no TCU se aposenta e critica Petrobras

O ministro José Jorge, do TCU (Tribunal de Contas da União), participou nesta quarta-feira (12) de sua última sessão no tribunal antes de sua aposentadoria compulsória, por ter chegado aos 70 anos.

Jorge estava relatando os casos que envolvem a Petrobras e o setor elétrico nacional. Ao sair, o ex-senador reclamou da lei que determina a aposentadoria de ministros de tribunais aos 70 anos e disse que pode continuar trabalhando para ajudar o país.

Sobre a Petrobras, o ministro afirmou que "é triste ver a situação a que chegou a empresa", criticando a política do governo de contenção de preços dos combustíveis, a má gestão da companhia e os desvios apurados pelo TCU na estatal.

Sérgio Lima - 3.fev.09/Folhapress
José Jorge, quando tomou posse como ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), em 2009
José Jorge, quando tomou posse como ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), em 2009

Sua maiores críticas, no entanto, foram ao sistema elétrico nacional. Ex-ministro de Minas e Energia no Governo Fernando Henrique Cardoso, Jorge criticou as mudanças feitas pelo governo no sistema elétrico em 2012 que, segundo ele, deixaram as empresas vulneráveis e criaram uma situação que levou a um prejuízo de R$ 62 bilhões aos consumidores. Jorge afirmou que a situação atual já é pior que a de 2001, quando ele assumiu o ministério.

"Estamos na mão de São Pedro. Aliás, de São Pedro, não. Na mão de Deus porque nem São Pedro vai resolver", afirmou o ministro citando o nível dos reservatórios do sudeste e do nordeste atualmente estar abaixo do que estava quando o governo teve que iniciar um processo de redução forçada do consumo de energia, o chamado "apagão".

SUBSTITUTO

A vaga de José Jorge pertence ao Senado federal, que pode escolher qualquer cidadão para ser ministro do TCU. O governo vem tentando emplacar o nome da ministra de Direitos Humanos, Ideli Salvatti. Mas o nome do senador Vital do Rego (PMDB-PB) vem ganhando força. Vital, atualmente, é relator da CPI mista que apura irregularidades na Petrobras.

O escolhido pelo Senado para a vaga de Jorge vai herdar os principais processos de apuração de irregularidades na Petrobras que estavam sendo relatados por ele, entre eles o da Refinaria de Pasadena. PT e PMDB, que têm políticos citados nas investigações de esquema de corrupção na estatal, detêm as duas maiores bancadas da casa.

PRÉ-SAL

Em sua última decisão, o ministro determinou que o governo não assine um contrato de venda do excedente de petróleo encontrado em quatro campos do Pré-Sal com a Petrobras. Em 2010, o governo assinou com a Petrobras contrato de exploração de quatro campos do Pré-Sal, Búzios, Iara, Tupi e Florin, que teriam 5 bilhões de barris de petróleo. Depois, se descobriu que há mais petróleo que o previsto nessa áreas e o governo cedeu à estatal o direito de explorar o excedente em troca de um bônus que renderia, somente este ano, R$ 2 bilhões. A intenção do governo era usar esses recursos para ajudar no superávit primário.

De acordo com o ministro, o contrato para a exploração do excedente só pode ser assinado após o fim dos estudos que vão fazer a revisão do primeiro contrato de cessão desses campos. Segundo Jorge, não há motivo para pressa em assinar o contrato da parte excedente, já que o governo não tem mais a intenção de fazer superávit.

"Se começar errado, vai terminar errado. Não tem jeito", disse Jorge.


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