Folha de S. Paulo


Baixa de reservatório faz parte de cidade submersa reaparecer

No meio do rio São Francisco, uma igreja desponta no horizonte parcialmente submersa. Ao redor, galhos das algarobas e mangueiras são um obstáculo para os barcos, assim como a caixa d'água do que um dia foi uma escola.

Com um volume útil de só 15% no reservatório de Itaparica, a antiga Petrolândia começa a reaparecer. A cidade do sertão pernambucano foi engolida em 1989 para construção de uma represa.

Há menos de um ano, só o telhado da antiga igreja do Sagrado Coração de Jesus ficava à mostra. Agora é possível vê-la quase inteira.

O cenário é resultado do baixo nível do rio, atingido pela pior seca em décadas. Somente em Minas Gerais, onde a principal nascente do rio na Serra da Canastra secou, 85 cidades decretaram situação de emergência.

Moradores dizem ainda que os testes da transposição do rio São Francisco influenciaram, mas o governo nega.

Os reservatórios de Sobradinho, Itaparica e Xingó, que alimentam o Nordeste, têm volume útil abaixo de 20%.

AÇÃO DO HOMEM

Presidente do Comitê de Bacia do Rio São Francisco, Arivaldo Miranda diz que a falta de chuva, associada à ação do homem, que causa erosão e assoreamento, comprometem o futuro do rio.

"O governo prometeu investir igualmente na revitalização cada centavo aplicado na transposição. Mas isso nunca aconteceu. O cuidado com o rio não está sendo devidamente levado a sério", afirma Miranda.

"É preciso agir rápido. Se não chover em Minas Gerais, não sei o que vai ser. Não vai demorar para conseguirmos ver o chão da igreja que estava submersa", diz o pescador, Reginaldo Campos, 50, de Petrolândia.

Na zona rural da velha cidade submersa, a igreja era ponto de encontro para cerimônias como a Procissão do Rio e a Missa dos Pescadores. Hoje, é uma espécie de régua para medir o futuro do abastecimento de 40 milhões nordestinos.

Editoria de arte/Folhapress

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