Folha de S. Paulo


Agricultora que ganhou prótese diz que chorou com reeleição

É fim de tarde de segunda-feira (3) e Marinalva Gomes Filha, 46, está imersa na plantação de pimentão, alface, coentro e pimenta de cheiro.

Com a cisterna de produção vazia há um mês, ela molha as plantas com o regador. No rosto, o sorriso revela a falta dos dois dentes da frente.

Conhecida como Nalvinha, ela se notabilizou por ter recebido uma prótese dentária, a pedido do governo federal, dois dias antes de gravar com a presidente Dilma Rousseff para o programa eleitoral.

A escassez de água é resultado da seca que assola Paulo Afonso, no norte da Bahia, onde não chove há um ano. A falta de dentes é pelo incômodo causado pela prótese provisória, à qual ela diz que não se acostumou.

Sem dentes e sem água, Nalvinha comemorou a reeleição de Dilma. Não soube da vitória pela TV nem pelo rádio, mas pelo "disse me disse" dos vizinhos: "Só ouvi o povo dizer [da vitória] e dei viva a Deus. As minhas lágrimas chegaram a descer dos olhos. Chorei de alegria".

João Pedro Pitombo/Folhapress
Dona Nalvinha, que recebeu prótese dentária na Bahia
Dona Nalvinha, que recebeu prótese dentária na Bahia

Ao contrário da vantagem apertada nas urnas do país, na região Dilma teve uma vitória estrondosa. A seção eleitoral onde vota Nalvinha deu 189 votos à presidente no segundo turno, ou 91% do total. Seu oponente, senador Aécio Neves (PSDB), teve 14.

Nalvinha tem dez filhos e vive da produção de hortaliças no quintal, além do benefício do Bolsa Família. Tem em casa duas cisternas do programa Água para Todos.

A soma dos dois programas sociais gerou barreira quase impenetrável para a oposição: "Nem procurei saber sobre eles", disse Nalvinha.

Ela conta que votará no PT nas próximas eleições. E diz torcer pela volta de Lula em 2018. Segundo a agricultora, o voto em Dilma foi de gratidão pelos programas que a atendem –incluindo o Brasil Sorridente, dos dentes provisórios que desistiu de usar.

Dois meses após ter recebido os dentes, ainda não deu início à implantação da prótese definitiva, incluída no programa. "O dentista está de férias", diz.

Desde a vinda de Dilma, nem dona Nalvinha nem os vizinhos receberam novas benfeitorias, como ocorreu às vésperas da visita, quando seu fogão a lenha ganhou uma parede de proteção.

Sem água para as plantas, ela trocou o sistema de irrigação por canos subterrâneos pelo antigo regador. Parou de plantar para vender, pois o que sai da terra quase não tem valor comercial.

Mesmo assim, não esmorece nem esconde o sorriso sem dentes: "A bolsa [família] me acudiu a fome e a cisterna mata minha sede. Não tenho do que reclamar, moço".


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