Folha de S. Paulo


Partidos têm menos votos do que filiados nos Estados

A maioria dos partidos que lançou candidatos a deputado federal neste ano conquistou, em ao menos um Estado do país, menos votos do que o número de filiados registrados na Justiça Eleitoral.

A deserção da militância atingiu 105 diretórios estaduais de 20 legendas. A lista é composta principalmente por siglas nanicas, mas inclui partidos com bancadas representativas no Congresso, como PDT, PC do B, PP e DEM.

O PMN não teve o voto de todos os seus filiados em 12 Estados e lidera o ranking do deficit. Em seguida, estão o PTN e o PRTB, com saldo negativo em nove Estados.

O PDT do Paraná é um dos diretórios que registraram deserção entre os partidos maiores. Os 19 candidatos a deputado federal lançados pelo partido receberam 8.000 votos a menos do que seus 75 mil filiados no Estado.

O presidente do PDT-PR, Haroldo Ferreira, diz que a falta de recursos para a campanha desestimulou a militância. "[Os filiados] Não têm motivação. Foram candidaturas inviáveis."

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire, cujo partido teve saldo negativo em oito Estados, afirma que o fenômeno decorre do método utilizado para a criação de diretórios municipais, que exige um mínimo de integrantes.

"Quem pretende disputar eleição faz uma campanha de filiação para criação dos diretórios. Na maioria das vezes, há filiados que servem só para regularizar o diretório. Mas, na prática, grande parte é descompromissada com o programa partidário e até com o voto", afirma.

A deserção atingiu até um candidato a presidente. José Maria Eymael teve 61.250 votos, menos do que os 167 mil filiados ao PSDC em todo o país. A sigla teve o mesmo problema em São Paulo.

"Estamos desenvolvendo um processo de fidelização dos filiados. É um processo de conscientização. Mas no final [do primeiro turno] houve um voto útil no Aécio Neves", disse Eymael.

CLÁUSULA DE BARREIRA

Cientistas políticos afirmam que o dado expõe a falta de consistência ideológica da maioria dos 32 partidos do país. Mas divergem sobre a necessidade de novas regras.

Carlos Pereira, da FGV, afirma que os partidos no Brasil "não são fonte de agregação ideológica" e são usados como veículos para a "sobrevivência eleitoral" de setores com interesses específicos, como a defesa de um município ou um setor econômico.

Para o cientista político David Fleisher, da UnB, as siglas deveriam promover prévias para definição dos candidatos. "Isso estreita a relação entre o partido e o filiado."

Fleischer diz ser favorável à cláusula de barreira (percentual mínimo de votos para que a sigla tenha acesso a recursos do Fundo Partidário, entre outras prerrogativas) com percentual entre 2% e 3%. Ele defende também o fim das coligações para eleição proporcional.

"Os nanicos só se elegem com negociação. E a maioria desses partidos não têm militantes, mas um dono."

Pereira concorda com o fim da coligação proporcional, mas diz ser contrário à clausula de barreira por desempenho. "O sistema político brasileiro é jovem. Se criar cláusula de barreira, pode perder a oxigenação do quadro partidário".

Após o resultado dar urnas aumentar a fragmentação partidária do Congresso (subiu de 22 para 28 partidos com representação), os deputados ensaiam retomar a discussão sobre a cláusula de desempenho, um dos itens discutidos nos quatro projetos de reforma política que tramitam atualmente. Após ser reeleita, a presidente Dilma Rousseff disse a reforma política será uma das prioridades do segundo mandato.

Em 2006, o Supremo Tribunal Federal considerou a proposta da cláusula de desempenho inconstitucional. O projeto da época queria impor um piso de 5% dos votos para deputado federal para que os partidos tivessem funcionamento pleno.

Editoria de Arte/Folhapress

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