Folha de S. Paulo


Após negar marido no governo, eleita em RR indica ficha suja para gestão

Dois dias após ser eleita governadora de Roraima, Suely Campos (PP) indicou o marido, o ex-governador Neudo Campos (PP), como o principal nome de seu futuro secretariado.

Suely havia reiterado durante a campanha que Neudo não assumiria pastas em sua gestão –disse que seria apenas um "assessor particular".

"Neudo não administrará nenhuma pasta porque não precisa de emprego, mas serei sim aconselhada por ele em decisões importantes para fazer um governo de desenvolvimento em Roraima", afirmou ao portal G1 Roraima.

Ela substituiu Neudo na chapa na reta final da campanha, após o marido ter a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa.

Nas urnas, Suely Campos teve 55% dos votos e bateu o atual governador, Chico Rodrigues (PSB), que somou 45%.

Nesta terça-feira (28), logo no primeiro pronunciamento como governadora eleita, Suely disse que o marido ocupará o principal cargo da gestão: o de chefe da Casa Civil.

"Neudo é o primeiro componente do meu governo. Ele fará parte da Casa Civil", disse a pepista à Rede Amazônica, afiliada da Globo no Estado.

O político, disse Suely, também coordenará a transição de governo.

"[Essa vitória] traduz o grande líder que Neudo é. Ele conseguiu transferir essa confiança para mim", disse a governadora.

Suely substituiu o marido, que governou o Estado de 1995 a 2002, faltando 25 dias para o primeiro turno das eleições.

Neudo renunciou à disputa em Roraima porque foi barrado pela Lei da Ficha Limpa.

Ele foi condenado em segunda instância por peculato (crime contra a administração pública) pelo TRF (Tribunal Regional Federal) da 1a Região.

Também teve uma condenação em 2010 no TCU (Tribunal de Contas da União) por não ter prestado contas da construção de um anel viário inacabado.

O ex-governador também chegou a ser preso pela Polícia Federal em 2003, por supostamente liderar um esquema de falsas folhas de pagamento com funcionários fantasmas no governo do Estado.

'BURLA'

Para o juiz eleitoral Márlon Reis, um dos fundadores do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), a decisão da governadora eleita "burla os princípios da Lei da Ficha Limpa".

"Infelizmente, a lei ainda não barra um ficha suja nomeado em cargos de confiança, mas, eticamente, é uma decisão que burla os princípios da lei",disse.

Reis afirmou que há uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) em tramitação na Câmara dos Deputados que proíbe a nomeação para cargos de ministro e de secretário-executivo de pessoas consideradas inelegíveis pela Justiça Eleitoral.

A medida também valeria para nomeações em funções de confiança ou cargos comissionados.

"Essa PEC foi a primeira resposta dada às manifestações de 2013. Agora, precisamos fazer barulho para que seja aprovada o quanto antes", afirmou o juiz.

A reportagem tentou, sem sucesso, contato com a governadora eleita nesta terça-feira (28).

Procurado, o governador Chico Rodrigues preferiu não comentar a nomeação –afirmou apenas, via assessoria, que respeita "as escolhas do próximo governo".


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