Folha de S. Paulo


Para governar, tucano aposta em choque na largada para ter apoio

Se vencer a eleição presidencial, Aécio Neves (PSDB) vai buscar um "grande choque na largada", causando impacto com a apresentação de sua equipe e de planos. Motivo: em um país dividido nas urnas, terá de conquistar de saída apoio popular.

"Vou dar um grande choque logo na largada, tenho de fazer uma coisa diferente do tradicional. Tenho de ganhar rapidamente o apoio de 70% da população, não tenho outro caminho", comentou o senador mineiro com interlocutores na segunda semana do segundo turno, quando ainda aparecia à frente de Dilma Rousseff nas pesquisas.

Em seu roteiro está a nomeação de uma equipe de governo sem seguir a lógica de cotas partidárias, o que parece quase inexequível, já que precisará do apoio congressual do PMDB. "Terei os melhores nomes, inquestionáveis, na minha equipe", disse a interlocutores.

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Confira a linha do tempo da vida do candidato Aécio Neves (PSDB)
Confira a linha do tempo da vida e a biografia do candidato Aécio Neves (PSDB)

Pelo menos três estão praticamente definidos. O primeiro é Arminio Fraga, já anunciado ministro da Fazenda e nome forte da equipe.

Outro integrante certo do time é Antonio Anastasia, antigo braço direito de Aécio, seu sucessor no governo de Minas e senador eleito pelo PSDB. Anastasia irá, em caso de vitória, para a Casa Civil.

Por fim, haveria a volta de Tasso Jereissati ao centro do poder. Após um período "aposentado", ele se candidatou a pedido de Aécio ao Senado pelo PSDB-CE e foi eleito. Sua função provavelmente será a de ocupar a pasta da Articulação Política, com a missão de negociar com um Congresso com forte presença da oposição e altamente fragmentado.

Na última semana antes do pleito, com a subida de Dilma nas pesquisas de intenção de voto, a ordem na equipe foi evitar conversas sobre um eventual governo.

Mas vários nomes são especulados. Economistas ligados ao PSDB, como Mansueto Almeida e Elena Landau, e o especialista em energia Adriano Pires, são citados por pessoas próximas do tucano.

Rubens Barbosa, embaixador que formulou propostas de política externa para Aécio, pode ir para a Defesa.

O Itamaraty, visto entre diplomatas como seu destino natural, poderá ficar com algum nome de maior densidade política –já foram especulados o senador eleito José Serra (PSDB-SP) e a ex-candidata Marina Silva (PSB).

Deve haver também novidades estruturais, como a provável pasta da Infraestrutura e um superministério que agregaria Transportes, Minas e Energia, Cidades, Aviação Civil e Portos.

A ideia de um "choque" se estende às estatais, foco de escândalos nos governos do PT, desembocando no atual caso da Petrobras. "Vou colocar na Petrobras os melhores quadros, vai causar uma grande e positiva surpresa", disse Aécio a um conhecido.

O escândalo na petroleira, aliás, tem o potencial de criar um clima de "CPI permanente" em 2015. Isso pode ajudar um eventual governo Aécio a avançar sua agenda, uma vez que a oposição estará ocupada defendendo-se, ou dificultar as coisas, paralisando politicamente o país.

O senador mineiro acredita que terá força política para implementar seu plano. Na sua avaliação, como chegou a ser dado como acabado na disputa, chegaria ao Planalto "sem compromissos" e "livre" para dar sua linha à frente da Presidência.

Neto de Tancredo Neves, Aécio diz reconhecer que terá desafios pela frente diante do quadro econômico negativo, com inflação alta, crescimento perto de zero e vários indicadores sombrios.

Se eleito, terá um 2015 dificílimo, mas acredita que seu principal ponto de venda na campanha —a "previsibilidade" institucional representada por Arminio— poderá restaurar a confiança do mercado e trazer de volta investimentos produtivos.

Aécio tem dito que precisa fazer um excelente governo, sob pena de abrir caminho para a volta do PT, talvez até com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato, ou para o surgimento de algum novo ator político em 2018.

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