Folha de S. Paulo


Eduardo Cunha é favorito para presidente de Câmara com PT ou PSDB

Uma das figuras mais polêmicas do Congresso nos últimos anos, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), 56, desponta hoje como o favorito para se eleger presidente da Câmara dos Deputados a partir de fevereiro.

Na avaliação de mais de uma dezena de colegas e adversários ouvidos pela Folha, isso independe de quem ganhe a disputa ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT) ou Aécio Neves (PSDB).

Tradicionalmente o partido do presidente da República tem forte influência para eleger o comando da Câmara, mas Cunha tem trunfos que deixam essa variável menos importante em 2015.

O primeiro deles é o total controle sobre a bancada do PMDB, a segunda maior da Câmara (66 eleitos), que o político liderou nos últimos dois anos. Vários desses deputados bancaram suas campanhas com doações intermediadas por Cunha.

Segundo alguns peemedebistas, quase a totalidade dos eleitos contou com essa ajuda financeira, além de candidatos de outros partidos. O peemedebista diz que só auxiliou os colegas da legenda.

Editoria de Arte/Folhapress

Além da parte financeira, Cunha é um dos deputados mais assíduos em Brasília e defendeu os interesses dos peemedebistas no governo federal. E tem sido apontado por ex-desafetos dentro da legenda como uma pessoa que, na liderança da bancada, soube ouvir e conciliar posições divergentes.

O segundo trunfo está no apoio fora do PMDB. Fiel da Igreja Sara Nossa Terra, tem ascendência na bancada evangélica e fluminense.

Por fim, Eduardo Cunha sempre foi, como muitos brincam, o líder da oposição dentro do governo. Embora comandasse o maior aliado na base, armou rebeliões, mediu forças e nunca dinamitou pontes com a oposição.

RESISTÊNCIA

No caso de reeleição de Dilma, o deputado tende a enfrentar adversários no PT, que elegeu a maior bancada (70). Entre os nomes aventados estão os dos ex-presidentes da Casa Arlindo Chinaglia (SP) e Marco Maia (RS) e o do ex-líder da bancada, José Guimarães (CE).

Os petistas têm grande resistência a Cunha principalmente pelo fato de o congressista ter liderado no início do ano uma rebelião em pressão por maior participação no governo. O Planalto sofreu derrotas em votações e viu mais de uma dezena de ministros serem convocados ou convidados a darem explicações em comissões da Câmara.

Caso Aécio vença, o PSDB terá que buscar apoios, já que elegeu apenas a terceira maior bancada (54 cadeiras) na Casa. E o papel do PMDB, nessa hipótese, será decisivo. O próprio Cunha já declarou não ter dificuldade em integrar a base de apoio de um eventual governo tucano.

A eleição para a Presidência da Câmara será realizada no dia 1º ou no dia 2 de fevereiro. Atualmente o posto já é do PMDB, com Henrique Eduardo Alves, que não se candidatou à reeleição -ele disputa o 2º turno do governo do Rio Grande do Norte.

PROCESSOS

Cunha responde a um processo de improbidade administrativa por sua gestão na Cehab (companhia de habitação do Rio) em 1999 e 2000, na gestão de Anthony Garotinho (PR). Essa ação foi aceita em janeiro pela Justiça do Rio.

Segundo a acusação, houve o direcionamento para a contratação de uma empresa de financiamento imobiliário que não cumpria os requisitos da licitação e cujos preços estavam superfaturados.

O deputado afirma que entrou com ação junto ao Superior Tribunal de Justiça argumentando que já houve a prescrição desse caso.

No STF (Supremo Tribunal Federal), o peemedebista foi absolvido em agosto da acusação do uso de documentos falsos para se defender de investigações do Tribunal de Contas do Rio.

Outra apuração contra ele no STF também foi arquivada, no mesmo mês, a pedido do Ministério Público. Era a suspeita de que ele defendia interesses da Refinaria de Manguinhos, a pedido de um funcionário da usina, junto à petroquímica Braskem.

O Ministério Público entendeu que "o patrocínio de interesse privado perante pessoas jurídicas que não guardem vínculo com a administração pública, muito embora possa eventualmente ser condenável sob o ponto de vista ético, não tipifica infração penal".


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