Folha de S. Paulo


Opinião: Escolha seu (ou sua) economista

Há dois tipos básicos de economistas na arena política: os que desconfiam do governo e os que desconfiam do mercado.

Para os primeiros, a regulação excessiva sufoca os empreendedores com burocracia; a proteção do Estado fomenta a criação de grupos organizados para a extração de novos favores; o poder público sempre busca pretextos para gastar além das receitas, com benefícios imediatos e custos futuros.

Para os segundos, a livre competição entre trabalhadores, empresas ou países é um jogo que será continuamente perdido pelos mais fracos; as oportunidades ilimitadas para a especulação resultarão, mais cedo ou mais tarde, em crises financeiras cujo preço será repassado ao resto da sociedade.

Nos EUA, os críticos do dirigismo governamental são chamados de economistas de água doce, porque as universidades mais associadas a esse pensamento, como a de Chicago, estão próximas aos Grandes Lagos.

Seus oponentes são os economistas de água salgada, facilmente encontráveis em academias vizinhas da costa norte-americana, como Harvard e Princeton.

No Brasil, é o contrário: no contexto local, os mais notórios defensores de menos Estado estudaram perto das praias cosmopolitas do Rio, em especial na PUC (Pontifícia Universidade Católica).

Já os mais atuantes intervencionistas provêm da Universidade Estadual de Campinas, na água doce, hoje escassa, do Estado mais industrializado do país.

As duas escolas participaram da oposição ao regime militar e chegaram ao poder com a redemocratização. Desde então, convivem e disputam o protagonismo nos governos –a primeira e única grande obra conjunta foi o fracassado Plano Cruzado.

A turma da PUC-RJ reinou nos anos FHC, de controle da hiperinflação, privatizações e abertura da economia. Desgastado pelos efeitos colaterais das medidas, o tucano lançou candidato a sua sucessão um economista da Unicamp, José Serra.

Sob Lula, os mercadistas começaram dando as cartas, mas a partir de 2008 a crise financeira internacional exigiu o ativismo de governos em todo o mundo. A sucessora do petista foi outra unicampista, Dilma Rousseff.

Aécio Neves também é formado em economia, pela pontifícia mineira, mas não exerce o ofício. Optou por anunciar de antemão o ministro da Fazenda de seu eventual governo: Armínio Fraga, conhecedor da água salgada brasileira e americana.

Graduado na PUC-RJ, doutor por Princeton, Fraga teve papel decisivo no arranjo econômico que substituiu o Plano Real e cerceou as liberdades da política oficial: metas para inflação e contas públicas, autonomia do Banco Central e câmbio livre.

Dilma se encarregou de implodir esses princípios em seu governo, em nome da preservação do mercado de trabalho, e explicitou essa escolha na campanha à reeleição. A petista advoga a centralização de decisões no Planalto e já anunciou a mudança de comando na Fazenda em caso de vitória.

Com Dilma, o nome do auxiliar é menos importante que as convicções da presidente-economista; com Aécio, Fraga tende a ser o ministro mais poderoso dos últimos governos eleitos –trata-se de um caso inédito em que um economista é a proposta mais concreta da oposição.


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