Folha de S. Paulo


Eleitores de Dilma e Aécio colecionam desentendimentos com amigos na web

"Mais uma amiga me bloqueou [no Facebook] por causa de política. Mas eu sou tão lightzinha...".

O desabafo feito pela editora de livros Alessandra Blocker, 48, em uma rede social na última terça-feira (14) foi "curtido" e comentado por 46 amigos. Um deles relatou ter passado pela mesma situação: "você ganhou mais uma inimiga em comum".

O atrito no círculo social da eleitora do presidenciável tucano Aécio Neves é mais um entre os casos de briga entre amigos e patrulhamento político, que gera guerras virtuais entre militantes que nem sequer se conhecem.

"Acho interessante porque está todo mundo discutindo política, mas acontece que a maioria quer se mostrar mais certa do que o outro, e isso está chato", afirma Alessandra.

Ela diz evitar o bate-boca e que só contesta coisas que acha "muito absurdas".

Davi Ribeiro/Folhapress
"Sei respeitar as opiniões contrárias às minhas. É o que as pessoas deveriam fazer também e não sair por aí atacando umas às outras só porque votam em um candidato da oposição", Marina Mantega - A apresentadora e filha do ministro Guido Mantega publicou endereço de texto ofensivo a Aécio Neves
Danilo Verpa - 21.mar.2013/Folhapress
"Se fala tanto em democracia com o Facebook, mas não tem democracia nenhuma. A turma de todos os lados [PT e PSDB] é da pesada nas redes sociais", Ronaldo Fraga - Um dos principais nomes da moda brasileira conta ter passado por um "apedrejamento" virtual
Raquel Cunha/Folhapress
"Caço posts de pessoas contrárias à minha ideologia para argumentar, esse é meu passatempo. Mas não busco convencer ninguém a votar no meu candidato", Fabricio Azambuja - O publicitário foi excluído do círculo de amigos de uma pessoa nas redes sociais devido às mensagens que publicava
Bruno Poletti - 22.jul.2014/Folhapress
"Ele xinga o tempo todo o Fernando Henrique Cardoso, nós tucanos. Aí dei umas duras nele. Agora, ele está tentando falar comigo, mas só depois da eleição", Lulu Librandi - A produtora cultural tucana se desentendeu até com um afilhado de casamento por causa de suas manifestações nas redes sociais

Fabricio Azambuja, 29, também já coleciona desentendimentos nas redes sociais por causa da eleição.

O eleitor da presidente Dilma Rousseff se assume um "guerrilheiro do Facebook".

"Caço posts de pessoas contrárias à minha ideologia para argumentar. Esse é meu passatempo. Mas não busco convencer ninguém a votar no meu candidato", diz ele, que trabalha com marketing.

Depois de uma discussão, Azambuja descobriu que havia sido excluído do círculo de amizades de uma pessoa nas redes sociais e a procurou para tirar satisfação.

"A pessoa respondeu me ofendendo, dizendo que eu era ignorante, que não tinha estudo. Fiquei mal", disse.

MOMENTO INFELIZ

Já a apresentadora da Band Marina Mantega, 32, decidiu fechar sua página no Facebook para quem não conhece e diz que bloqueará os amigos que falam "besteiras" ou "mentiras" em tom agressivo.

"Se não sabem debater, melhor bloquear ou não falar de política", afirma Marina, que é eleitora militante, que posta notícias sobre o governo Dilma e a disputa presidencial com frequência.

O telhado virtual da apresentadora é de vidro, por ser filha do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Tudo o que escreve ganha repercussão e é alvo de críticas pesadas.

Na semana passada, Marina publicou o endereço de um texto ofensivo a Aécio e, na sequência, deletou a postagem. Já era tarde e ele havia se espalhado. Ela afirma que se arrependeu do momento "infeliz", mas se queixa do patrulhamento ideológico e da intolerância de amigos.

O estilista Ronaldo Fraga, um dos principais nomes da moda brasileira, diz ter sofrido "apedrejamento virtual" ao declarar voto em Aécio.

"Se fala tanto em democracia com o Facebook, mas não tem democracia nenhuma. A turma de todos os lados [PT e PSDB] é da pesada nas redes sociais", diz o mineiro, que optou por Dilma em 2010.

Para ele, que defende o posicionamento político de formadores de opinião, o mais "triste" é que as pessoas não querem trocar ideias, defender argumentos, "apenas [fazer] agressões".

DEPOIS DA ELEIÇÃO

A produtora cultural Lulu Librandi, eleitora do PSDB, conta que se desentendeu até com um afilhado de casamento. "Ele xinga o tempo todo o FHC, nós tucanos. Aí dei umas duras nele. Agora, ele está tentando falar comigo, mas só depois da eleição."

O também tucano Pedro Zahran Turqueto, 29, diz que chegou a ter sua conta bloqueada em uma rede social por causa de denúncias falsas de um "amigo" que divergia de seus comentários políticos. Fotos suas foram marcadas como sendo de conteúdo impróprio, e ele ficou temporariamente sem acesso à rede.

Advogado e cineasta, ele diz não bloquear ninguém por causa de política. "E também não apago comentários. O cara que te agride, ou baixa o nível, está se expondo mais do que você."

O clima de guerra eleitoral na internet levou o Ministério da Justiça a lançar neste mês uma campanha nas redes sociais para conscientizar os militantes virtuais. "Não confunda discurso de ódio com liberdade de expressão", diz um cartaz.


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