Folha de S. Paulo


Negros autodeclarados são só 20% dos 513 deputados federais eleitos

Dois em cada dez deputados federais eleitos neste ano se consideram pretos ou pardos, revela classificação inédita realizada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Nestas eleições, os candidatos tiveram pela primeira vez que informar sua cor de pele no registro eleitoral.

Dos 513 deputados que irão compor a próxima legislatura, 81 se disseram pardos e 22 pretos. Pelo IBGE, indivíduos que se incluem nessas categorias podem ser considerados negros, que somam um total de 103 (20% do total) deputados. O restante da Câmara (410) afirma ser branca.

Editoria de Arte/Folhapress

A proporção de autodeclarados negros dentre os 27 eleitos para o Senado nesta eleição (um terço de sua composição total) é parecida com a da Câmara: 18,5% (ou 5 parlamentares). Todos os outros eleitos se dizem brancos.

Ou seja, nenhum deputado ou senador eleito no último domingo se declarou indígena ou amarelo –cor referente aos de origem oriental.

A distribuição de cor de pele no Congresso contrasta com dados aferidos na população em geral pelo Censo 2010, que também é autodeclaratório.

Segundo o levantamento nacional, 50,7% dos brasileiros se consideram negros (43,1% pardos e 7,6% pretos), 47,7% se dizem brancos, 1,1%, amarelos e 0,4%, indígenas.

Para Luiz Augusto Campos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a atual composição da Câmara reflete uma "sub-representação" de segmentos negros da sociedade e prejudica a discussão de temas de interesse desse grupo.

"Como um parlamento dominado por homens brancos vai discutir, por exemplo, leis contra a discriminação racial se a princípio nenhum deles viveu na pele? Gera um problema político e de justiça social muito sério", diz Campos.

Apesar de a informação sobre a cor de pele dos candidatos nunca ter sido exigida pelo TSE, estudos anteriores já tentaram mapear a distribuição racial no Congresso.

Pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) classificaram fotos de parlamentares para concluir que 46 eleitos para a Câmara (9%) em 2006 eram negros.

Editoria de Arte/Folhapress

Contudo, a conclusão de que o número de negros mais do que dobrou neste ano pode ser ilusória, afirmam Luiz Augusto Campos e Carlos Machado, da UnB (Universidade de Brasília), num estudo com dados já da eleição de 2014.

"Nem todos os candidatos que se declararam pretos ou pardos ao TSE [neste ano] seriam classificados como tais pelas investigações sociológicas similares às conduzidas no Brasil até hoje. [E] é bem provável que uma parcela significativa dos deputados autodeclarados pardos ou pretos não seja vista deste modo pela sociedade como um todo."

Já os pesquisadores Natália Bueno, da Universidade Yale, e Thad Dunning, da Universidade da Califórnia, que também estudam o tema, chegaram à conclusão de que a subrepresentação dos negros está associada, entre outras coisas, à renda própria e doações recebidas na campanha.

A partir declarados ao TSE com patrimônio e balanços de campanha de candidatos da eleição de 2010, os pesquisadores concluíram que candidatos brancos tem, em média, patrimônio R$ 690 mil maior do que os não brancos e também tem maior facilidade para atrair financiadores.


Endereço da página: