Folha de S. Paulo


Análise: Divisão entre Aécio e Dilma é socioeconômica e não geográfica

O Brasil começa dividido no segundo turno da sucessão presidencial. Mas, apesar de, no total, a diferença de Aécio para Dilma ficar dentro da margem de erro, o início da disputa tem contrastes marcantes em segmentos específicos da população.

Não se trata de imaginar uma linha que rache o país entre norte e sul. Há de observar, na verdade, o quanto as diferenças constituem reflexo da distribuição de classes socioeconômicas pelo território nacional. E, consequentemente, a diversidade de demandas que essa segmentação imprime sobre o debate.

Como era de se esperar, Aécio apresenta melhor desempenho nas regiões onde a oposição se destacou no primeiro turno –Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Dilma lidera no Norte e Nordeste.

Editoria de arte/Folhapress

O Centro-Oeste, quantitativamente, tem mais do que o dobro de eleitores nas classes alta ou média alta do que o Nordeste. No Sudeste e no Sul, essa proporção sobe para quase o triplo. No Nordeste, metade da população é composta por excluídos ou integrantes da classe média baixa.

Essa classificação criada pelo Datafolha combina, por meio de análises estatísticas, o acesso a bens de conforto, escolaridade do entrevistado e renda familiar mensal.

O tucano vai a 74% dos votos válidos entre os que pertencem à classe alta e a 67% entre os da média alta.

As duas juntas, que representam aproximadamente 31% do eleitorado, contribuem com 21 pontos do apoio ao senador e com 10 pontos para a reeleição da petista.

Na outra ponta, Dilma tem 64% entre os excluídos (baixa escolaridade e renda) e 53% entre os da classe média baixa, que são 38% do eleitorado.

Com tal peso, essas classes contribuem juntas com 23 pontos dos votos válidos da petista e com 15 dos do tucano. Entre os da classe média intermediária, estrato que mais cresceu nos 12 anos de governo petista, a contribuição com os dois candidatos é a mesma em pontos percentuais –ambos aparecem empatados no segmento: 15 pontos para Aécio e 16 para Dilma.

Logo, o que determina a ligeira vantagem numérica de Aécio é conseguir mais pontos nos estratos carentes do que a petista nos mais ricos.

A vantagem pode se intensificar caso a estratégia de comunicação do tucano aumente sua participação entre os que têm menor renda e escolaridade. Se por um lado sua rejeição não é tão expressiva, por outro as classes baixas são justamente onde a presidente obtém sua maior parcela de eleitores convictos.

Com essa cristalização do voto nos extremos da classificação socioeconômica, a decisão caberá ao segmento que vem equilibrando a disputa, a classe média intermediária.

Mais feminino, jovem, escolarizado e nordestino, porém com menor renda em comparação com o total da população, esse contingente numeroso e economicamente ativo parece não encontrar satisfação no emprego, e, em condições financeiras desfavoráveis, se mostra insatisfeito com a qualidade dos serviços públicos que utiliza.

Votaram mais em Marina do que a média dos brasileiros e se dividem agora na busca por um representante.

Ao invés da desconstrução de um ou outro candidato, esses eleitores esperam propostas para seus dilemas. Entre o medo de perder o que foi conquistado e a revolta pela estagnação econômica, ao menos nas próximas semanas são os que receberão especial atenção dos presidenciáveis.

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