Folha de S. Paulo


Raiva do PT e medo de perder o Bolsa Família marcam 'votações extremas'

No Estado de São Paulo, Aécio Neves (PSDB) teve quase o dobro dos votos da presidente Dilma Rousseff (PT). Mas em Saltinho, município cercado por canaviais e a 173 km da capital, a proporção de quase sete votos ao tucano para cada um dado à petista chama a atenção.

Foi lá onde a candidata à reeleição obteve o seu pior desempenho em todo o país, com apenas 10,2% dos votos.

"Não tenho nada contra o PT, mas nada a favor. Na Dilma Rousseff não voto. Está difícil conseguir emprego fixo." A declaração é de Simone Pizzol, 40, mãe de dois filhos pequenos e com o marido desempregado há dez meses.

"Votei no Aécio Neves porque ele prometeu bastante coisa. Vamos ver se ele vai cumprir", completa a diarista, que recebe R$ 229 mensais do Bolsa Família e paga R$ 150 de aluguel e R$ 50 de água e luz para morar em uma edícula nos fundos da casa do tio.

A crise no setor sucroalcooleiro, crítico ferrenho ao governo Dilma, ajuda a explicar a rejeição local à petista.

"Ela não está ajudando em nada os produtores rurais", diz Fátima Zatarin, 58, casada com um plantador de cana aposentado e que afirma já ter votado em Dilma e em Lula.

Situação oposta vive a pernambucana Betânia, cidade a 2.704 km de Saltinho. Lá, Aécio Neves quase não encontrou eleitores. Só recebeu 1,51% dos votos no município de 12,4 mil habitantes, sua menor votação em todo o país.

Em Betânia, 82% dos eleitores preferiram Dilma, caso da aposentada Júlia Izabel do Nascimento, 86. Para ela, o medo de que o Bolsa Família não tenha continuidade em um eventual governo de Aécio assustou os moradores. Na cidade, 69% da população recebe o benefício federal.

"Aqui é um buraco, uma cidade morta. Quase todo mundo não tem renda e precisa do Bolsa Família", disse a aposentada.

A MAIS DILMISTA DE TODAS

Betânia é uma cidade "dilmista", mas Belágua, no Maranhão, é mais. No município de 7.191 habitantes, 92% dos eleitores votaram na petista, a maior votação proporcional da presidente em todo o país.

Belágua era considerada a mais pobre cidade do Brasil em 2011, quando Dilma assumiu. Quem não trabalha no serviço público depende necessariamente do Bolsa Família.

Cerca de 65% da população recebe o benefício, como os pais de Josiane Santos, 18. Mãe de Ana Clara, 2, ela pretende se inscrever no programa para também receber o próprio cartão do programa.

"Votei em Dilma e voto nela de novo no segundo turno, porque o benefício [Bolsa Família] é tudo trabalho dela."

Paixão por Dilma no interior do Maranhão, ódio a ela no interior de Mato Grosso. "Se fosse escolher entre Dilma e um cachorro, eu preferia votar num cachorro do que nessa mulher." A dona de casa Roberta Pereira Alves, 50, assim resume sua raiva pela atual presidente.

E ela não está só: a esmagadora maioria dos moradores de Alto Boa Vista, no norte mato-grossense, escolheu Aécio Neves (PSDB) no primeiro turno. A cidade foi a que mais votou proporcionalmente no tucano em todo o país –83% dos votos.

Roberta e o marido João Antonio da Silva dizem pertencer ao grupo de cerca de 7.000 pequenos produtores que foram forçados a sair de uma área, considerada indígena na atual gestão petista. Eles dizem não ter recebido nenhuma indenização e que as famílias enfrentam dificuldade.

A renda de Alto Boa Vista, de 5.980 habitantes, depende do gado e do cultivo de soja.

O produtor rural Alaor Ferreira dos Santos, 50, atribuiu ao anti-petismo a vitória de Aécio na cidade. "Ninguém aqui vota nela [Dilma]. É uma cidade de pessoas que trabalham e ganham a vida com o suor do rosto, e não encostadas no Bolsa Família." O município possui 26% pessoas que dependem do programa.


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