Folha de S. Paulo


Eleito senador com 63,4% dos votos, Romário critica o próprio partido

O ex-jogador Romário (PSB) foi eleito senador pelo Estado do Rio com mais de 4,6 milhões de votos. Ele alcançou a marca de 63,4% do total de votos.

"O povo precisa de um político que tenha coragem de falar", disse Romário em entrevista concedida após a confirmação da vitória.

Já neste primeiro pronunciamento, o novo senador falou sobre problemas existentes dentro de seu próprio partido e sinalizou o interesse em apoiar candidatos adversários neste segundo turno.

"A relação com meu partido não é das melhores. Tem muita coisa para ser conversada. Não vejo possibilidade de deixar o PSB. Mas a situação não ficou como eu gostaria que ficasse. Aconteceram coisas fora do que eu havia acordado com o Eduardo [Campos]", disse Romário.

Em agosto de 2013, Romário anunciou sua desfiliação do PSB. Disse publicamente que a decisão estava relacionada ao desejo de se candidatar à prefeitura do Rio, em 2016.

Naquele período, o PSB não havia sinalizado o apoio que ele esperava. Até a intervenção do então presidente nacional da sigla, o ex-governador Eduardo Campos (PE), que garantiu a Romário o apoio na próxima eleição municipal do Rio.

Com o aval de Campos, ele retornou ao partido em outubro seguinte e, posteriormente, formalizou a candidatura ao senado.

Romário chega ao fim desta campanha ostentando votação recorde mas sem seu grande aliado no PSB.

"No que se refere ao segundo turno, não há nada definido de minha parte. Mas a política é bastante dinâmica. Hoje é dia de comemorar. A partir de amanhã, vamos pensar na possibilidade de ajuda no segundo turno", disse ele.

QUEBRA DE RECORDES

Nesta eleição, Romário tornou-se o senador mais votado das últimas três décadas no Estado do Rio.

Superou Francisco Dornelles (PP), que recebeu 3,3 milhões de votos em 2006, o equivalente a 45,9% da preferência do eleitorado fluminense. Este último percentual era o maior contabilizado desde o início da década de 1980.

Romário ultrapassou ainda o recorde em números absolutos conquistado em 2010 por Lindbergh Farias (PT), eleito senador com 4,2 milhões de votos.

Na disputa de quatro anos atrás, no entanto, cada eleitor votava em dois candidatos ao senado. Desta vez, só era possível escolher um candidato para a vaga.

"Só entro em algum tipo de competição onde tenho no mínimo 50% de chances de vencer. Se tivesse menos do que isso, não teria entrado nesta disputa", avaliou Romário.

INÍCIO NA CARREIRA POLÍTICA

Consagrado no futebol, o tetracampeão recorreu ao prestígio alcançado nos gramados para chegar a sua primeira vitória na carreira política.

Foi em 2010, ano de sua eleição como deputado federal com 146.859 votos. Na ocasião, havia uma dúvida sobre como seria a postura do astro da bola no poder legislativo.

Seu mandato coincidiu com o período final de preparação para a Copa do Mundo do Brasil. Enquanto ex-jogadores como Bebeto e Ronaldo Fenômeno exaltavam a organização do torneio, Romário foi a voz dissonante.

Fez críticas contundentes ao governo federal e à CBF pelos gastos excessivos com o Mundial. Em março de 2014, quatro meses antes do histórico 7 a 1 para a Alemanha, Romário disse à Folha: "fora de campo o Brasil já perdeu e foi de goleada".

A série de ataques verbais à organização da Copa e a defesa dos direitos dos portadores de Síndrome de Down (sua filha Ivy, 9, é portadora de Síndrome de Down) deram visibilidade ao mandato do deputado Romário e serviram como credenciais políticas na disputa ao senado.

Nos últimos meses, no entanto, ele fez uma campanha isolada dos candidatos majoritários de sua coligação. No Rio, o PSB apoiava Lindbergh Farias (PT) para governador e Marina Silva (PSB) para presidente.

"Foram eles que ficaram distantes de mim", justificou Romário neste domingo. "Percorri os 92 municípios do Estado. Estive em todos os lugares, comunidades, feiras e calçadões. Se eles tivessem interesse em me acompanhar, seriam bem-vindos. Tudo o que fiz na campanha foi público. Se eles não participaram, a culpa não foi minha".


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