Folha de S. Paulo


'Não quero ganhar eleição na base da calúnia', diz Marina ao votar

Após votar em Rio Branco (AC), a candidata do PSB, Marina Silva atacou a campanha da petista Dilma Rousseff e disse estar confiante de que chegará ao segundo turno.

"Não quis ganhar eleição apenas na base da calúnia, do boato", afirmou, durante entrevista coletiva de cerca de 20 minutos. "Não vale fazer qualquer coisa a qualquer custo, a qualquer preço para ganhar uma eleição."

A candidata afirmou que vai "ganhar ganhando. É ganhar coerente com os princípios, é ganhar coerente com as propostas. Essa é a nossa trajetória de vida".

"Direitos não são favores. A população precisa de um presidente que trata direitos como direitos. Aqui está o meu pai, seringueiro, 87 anos. Ele me ensinou que cidadão não deve favor", disse, ao lado do "seu Pedro".

"Quem vai ganhar estas eleições não são as velhas estruturas do marketing, do dinheiro, da mentira. Quem vai ganhar estas eleições é principalmente a nova postura do povo brasileiro, que quer votar em quem tem proposta."

Em crítica direta a sua ex-companheira na Esplanada dos Ministérios, disse: "A presidente Dilma está entregando o país pior do que encontrou. Com inflação, juros altos, baixo crescimento, elevado índice de problemas na educação, na saúde, na segurança, com corrupção."

"Sempre dissemos que qualquer decisão nossa é sempre orientada pelo nosso programa, pelas propostas. Nosso diálogo jamais será pragmático, será sempre programático. E é com esse espírito que iremos ao segundo turno", afirmou.

"Setenta por cento da população brasileira quer uma mudança muito compatível com o nosso programa. Preserva as conquistas, mas apresenta o caminho em que se anda para frente", disse. Em seguida, repetiu promessas de campanha, como criar um 13° salário no Bolsa Família.

Antes de chegar ao local de votação, a pessebista estava sorridente e atendeu com paciência aos pedidos de fotos e abraços. Ao entrar na van que a levaria do hotel ao centro de votação, brincou com o motorista: "Desliga esse ar que eu vim pro Acre pra sentir calor".

Pesquisa Datafolha publicada neste sábado mostra que, pela primeira vez, o tucano Aécio Neves aparece numericamente na frente de Marina, 26% a 24% dos votos válidos. Os dois estão tecnicamente empatados em segundo lugar, atrás da petista Dilma Rousseff, com 44%.

Cercada por simpatizantes e familiares, Marina chegou às 8h33 locais (2h a menos do que Brasília) ao centro de votação, instalado na sede do Incra. Depois de votar, Marina se dirigiu ao aeroporto, onde embarcaria rumo a São Paulo em avião privado.

IRMÃS CAJAZEIRAS

Durante a entrevista coletiva, realizada numa sala do Incra, Marina fez questão de cumprimentar as quatro irmãs Cunha, amigas da candidata desde o início dos anos 1980, quando militavam no PT.

Mesmo ligadas ao antigo partido de Marina –o filho de uma delas é candidato a deputado federal pela sigla–, as irmãs disseram que votam na antiga companheira.

"Ninguém perde uma estrela da grandeza da Marina Silva", disse Maria Cunha, 70, ao criticar o partido de Lula. "Sou do PT, mas voto nela", completou a irmã Nilza, 64, funcionária da Secretaria de Direitos Humanos do Acre, governado pelo partido de Lula.

Também filhas de seringueiro, as seis irmãs (duas não compareceram) ganharam, ainda no final da década de 1970, o apelido de "irmãs cajazeiras" em alusão às personagens da novela "O Bem Amado", da TV Globo. Na trama, as irmãs eram defensoras incondicionais do prefeito corrupto da fictícia cidade de Sucupira, Odorico Paraguaçu.


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