Folha de S. Paulo


Líder no Rio, Romário investe em campanhas 'relâmpagos' pelo Senado

"O quê? Ele passou por aqui? Não acredito!", disse Márcia Carneiro, 23, quando questionada se tinha visto que Romário, ex-jogador, deputado federal e candidato do PSB ao Senado, caminhara pela rua principal da pequena Engenheiro Paulo de Frontin, cidade com 9,6 mil eleitores, localizada a pouco mais de 120 quilômetros da capital fluminense.

A incredulidade de Márcia tem razão de ser. O jeito Romário de fazer campanha é uma espécie de blitzkrieg: tudo muito rápido.

Pelo menos cinco carros em comboio, com a equipe de TV da campanha, e ao menos 20 pessoas para distribuir panfletos, estacionam no local do corpo a corpo.

Na panfletagem, atuam especialmente mulheres. O uniforme delas é composto por calças justas escuras e camisetas amarelas e verdes que lembram imediatamente a da seleção brasileira.

Romário desce do carro, cumprimenta eleitores rapidamente. Fala pouco. Sua voz vem do autofalante potente dos carros, que de tempos em tempos repetem uma gravação em que o candidato cumprimenta os eleitores com um "E aí, Peixe?", diz que "tá na área" e pede votos para chegar ao Senado.

Enquanto isso, posa para incontáveis 'selfies' e autografa camisetas de todos os clubes em que jogou - especialmente Vasco e Flamengo. As maratonas são intensas, e ele chega a percorrer quatro ou cinco municípios em poucas horas.

Leonardo Carrato - 11.set.2014/Folhapress
Campanha Romário pelo interior Fluminense
Campanha Romário pelo interior Fluminense

Romário lidera as pesquisas, com folga, desde o início da campanha. No último levantamento do Datafolha, divulgado nesta quinta (2), ele aparece 31 pontos percentuais à frente do ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM). Tem 51%, contra 20% do adversário.

Em Mendes, cidade de 15 mil eleitores, Rosilene Martins, 40 anos, tentou falar com Romário sobre a filha de 4 anos, que tem Síndrome de Down. O tema é caro ao ex-atacante —que também tem uma filha, Ivy, portadora da síndrome—, mas ele não deu atenção a ela. Minutos depois, o limite físico chegou e ele encerrou a visita à cidade por ter passado mal: consequência do calor.

"O mundo não tem culpa disso (de a filha dela ter Síndrome de Down), mas não posso me calar", disse Rosilene, com uma ponta de frustração no olhar.

CRÍTICAS À COPA E À CBF

Neófito há quatro anos, o jogador se questionava sobre o futuro na política —mas teve um mandato de destaque, que forjou a imagem de bom deputado. Uma de suas bandeiras foi a visão crítica dos gastos com a Copa do Mundo, discurso que caiu na simpatia das redes.

Em quatro anos, apresentou 20 projetos, a maioria propondo benefícios aos portadores de deficiência, mudanças no Código Penal ou fiscalização dos gastos nos eventos esportivos, além de propostas como a PL-6756/2013, que propõe regulamentar as profissões relacionadas à cultura hip hop.

Romário sabe que o futebol ainda é o que sustenta sua popularidade. O jingle de campanha, um funk pegajoso, não deixa dúvidas: "Com a bola no pé ele mostrou como é que se faz/ deu muita alegria ao povão brasileiro que sofre demais/ a alegria voltou, pra marcar mais um gol/ Romário senador..."

ENTRA E SAI DO PSB

A breve carreira política do deputado foi marcada também por desavenças políticas. Eleito pelo PSB, ele chegou a deixar a legenda por alguns meses em 2013. Queria espaço, o que a direção do partido no Rio não concedia. Para tê-lo de volta, Eduardo Campos (PSB), patrocinou a saída da cúpula do partido no Estado e afastou o então presidente Alexandre Cardoso.

Para garantir liberdade total de movimentos, o rearranjo do PSB fluminense incluiu dar ao próprio Romário a presidência regional naquele momento.

Decolou nas redes sociais pelas críticas impiedosas aos gastos com a Copa e ao governo Dilma Rousseff. Os conchavos pragmáticos e sua moeda preferencial —os minutos de TV—, porém, tragaram o candidato para dentro da chapa de Lindbergh Farias (PT), que concorre ao governo do Rio. Crítico do PT, acabou fazendo aliança em nome do tempo de TV.

A medida rendeu exposição, mas foi condenada por muitos de seus seguidores nas redes sociais. O burburinho foi tão forte que o socialista foi obrigado a lançar uma carta em que "explicava" a aproximação com Lindbergh.
O texto, divulgado no Facebook, dizia: "Por mais que vocês achem que é possível, uma candidatura ao Senado sem coligação com um candidato a governador é inviável. Um exemplo prático, minha candidatura avulsa, sem apoio, teria apenas 30 segundos de tempo para apresentar minhas propostas na TV. Com a coligação serão dois minutos e meio".

Explicações dadas, o constrangimento seguiu evidente. Romário e Lindbergh participaram poucas vezes de atos de campanha juntos.

DISPUTA COM CÉSAR MAIA

Seu principal adversário, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM), centrou ataques na pouca experiência política do ex-atacante. Na réplica dos programas de TV, Romário retruca dizendo que o principal adversário é "ficha suja" por ter tido o registro de sua candidatura indeferido pelo TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral).

Maia dizia, como uma espécie de slogan, que "Não se faz um senador da noite para o dia". Romário respondia: "Quando eu entro em campo, é para jogar limpo. Não se faz senador da noite para o dia. E ninguém deixa de ser ficha suja de uma hora para outra".

Ainda que Câmara e Senado tenham características e propósitos diferentes, as promessas de Romário não são muito diferentes do que ele já vem defendendo em Brasília. O slogan reforça isso: "No Senado, minha voz vai ser ainda mais forte".

Romário tem seis filhos, com quatro mulheres diferentes. Foi casado por três vezes, mas atualmente está separado. A vida pessoal dele é mantida longe dos olhos dos eleitores.

O socialista rejeitou todos os pedidos de entrevista encaminhados pela Folha. O argumento, segundo os assessores, é de que Romário desenvolveu um forte vínculo com seu público nas redes sociais e nos programas de rádio e TV. Quanto à ausência nos debates, na avaliação do candidato, o seu formato "pouco contribui para a decisão de voto do eleitor".


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