Folha de S. Paulo


Adversários tentam colar Cabral a Pezão; Crivella o compara ao 'Lobo Mau'

Os adversários do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) tentaram no debate da TV Globo nesta terça-feira (30) colar a sua imagem à do antecessor, Sérgio Cabral (PMDB). A estratégia dos rivais foi tentar isolar o peemedebista, líder nas pesquisas, durante os confrontos.

O governador só era questionado no fim dos blocos. O objetivo era reduzir sua exposição. Mas, mesmo em enfrentamentos entre rivais, Pezão foi alvo de críticas. Diferente dos encontros anteriores, os ataques mais ácidos partiram do senador Marcelo Crivella (PRB), que comparou o peemedebista ao "Lobo Mau".

"O povo foi às ruas no ano passado e verificou que havia uma máfia no governo e acusou o governador. 'Fora Cabral'. Por incrível que pareça Cabral deve estar rindo em casa porque seu candidato é o primeiro lugar nas pesquisas. É aquele governador perdulário, faustoso, conspícuo que tem um candidato modesto, humilde, mas na verdade um lobo em pele de cordeiro. É como se todos os eleitores virassem Chapeuzinho Vermelho e fossem levar o voto para a vovó. 'Boca grande, mão grande, pé grande. São seus olhos, meus eleitores'. É a maior fraude de um governo fracassado", disse o senador.

Os principais ataques a Pezão partiram de "dobradinhas" entre Crivella e o senador Lindbergh Farias (PT), que escolheram perguntar um ao outro cinco vezes. Já Anthony Garotinho (PR) reduziu o tom das críticas a Pezão. Enquanto em debates anteriores trocou com ele acusações sobre ligação com milícias, desta vez privilegiou debater com Tarcísio Motta (Psol) e o senador petista.

Partiu de Crivella as principais ofensivas para vincular o governador a Cabral, que saiu do cargo com baixíssima popularidade após as manifestações de 2013.

"O povo queria o candidato anti-Cabral. Transformam o Cabral/Pezão, o povo na rua diz que é o Cabrão, no anti-Cabral. Milhões em propaganda em que entra aquele candidato que traz uma ternura no coração do povo, traz carinho, homem do interior, homem simples, uma figura pitoresca. Mas, quem está por trás, em casa rindo, sorriso plácido, é o governador Cabral", disse o candidato do PRB.

Crivella foi o primeiro a questionar diretamente Pezão. Ele o cobrou por não ter se posicionado sobre escândalos que envolveram a gestão Cabral, como relacionamento com o dono da Delta, Fernando Cavendish, e as fotos de secretários com guardanapos na cabeça em Paris com empresários. "Quando você era vice-governador, não sabia disso?"

O governador defendeu a administração, sem citar Cabral –assim como em todo o debate. "Participei de um governo que entrou, depois de 30 anos, dentro das comunidades. Participei de um governo que criou as UPAs. Me orgulho de ter participado disso", disse o governador.

Crivella retrucou. "Ele acha que cumprir o seu dever dá o direito de manter escondido, e não denunciar, os sucessivos escândalos que envergonharam nosso povo, que levaram mais de um milhão às ruas para dizer 'Fora Cabral'", disse o senador do PRB.

Em outro confronto direto, Crivella acusou Pezão de estimular a chapa "Aezão", que apoia Aécio Neves (PSDB) para a Presidência. Afirmou que faltou "honradez" ao governador após o apoio dado pelo governo federal no financiamento de obras. "Meu relacionamento com a presidente Dilma [Roussef, candidata à reeleição] não preciso explicar", disse Pezão, reafirmando apoio à petista.

Reduzindo o tom de seus ataques, Garotinho concentrou sua participação a críticas a medidas administrativas. Mas sempre destacando decisões governo "Cabral/Pezão".

"Não sou conivente com milícias. Elas ganharam poder e prestígio no governo Sérgio Cabral/Pezão", disse o candidato do PR, em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.

Lindbergh só questionou Pezão diretamente no terceiro bloco, apesar de duas oportunidades anteriores. Ele criticou o fato do governo estadual ter nomeado o ex-tesoureiro do PMDB-RJ, Arthur Vieira Bastos, para a Agetransp (agência reguladora do transporte público). O peemedebista respondeu com um contra-ataque que constrangeu o petista.

"Os deputados de seu partido aprovaram essa indicação na Assembleia Legislativa. Em todas as agências são assim, quando a presidente Dilma manda para as agências membros do Partido dos Trabalhadores, com o nome submetido ao Congresso Nacional", disse Pezão.

O contra-ataque do peemedebista foi semelhante contra Tarcísio, que o criticou por ter o financiamento de empreiteiras, bancos e planos de saúde. "Sou eu quem tem rabo de cavalo, mas é ele quem tem o rabo preso", disse o candidato do Psol.

Pezão disse respeitar a legislação eleitoral e alfinetou o socialista afirmando ser necessário discutir o "envolvimento de dinheiro de sindicatos dentro de partidos, o que é ilegal". Ele fazia referência a gravações da deputada Janira Rocha (Psol) que indicavam o uso de recursos do Sindisprev-RJ em favor da sigla.

Sobre o tema, Pezão também criticou Garotinho, Crivella e Lindbergh por não terem discutido o tema de financiamento eleitoral no Congresso Nacional. A atuação congressual também foi usada contra o candidato do PRB, que foi acusado de não propor emendas parlamentares em favor do Estado.

Com uma atuação tímida, Garotinho acabou sendo alvo do ataque mais duro de Pezão. O embate entre os dois, que lideram as pesquisas de intenção de voto, ocorreu apenas no fim do debate. O deputado questionou o peemedebista por ter extinto programas sociais de seu governo (1999-2002), como o Jovens Pela Paz.

"Não fizemos programas para enganar. Estamos investindo mais nas comunidades do que no governo Rosinha. Não queremos explorar a miséria dessas pessoas", disse o peemedebista.

Com uma postura defensiva, Garotinho acusou o governo Pezão de "superfaturar" passagens de ônibus intermunicipais em até 40%. E disse não ser "igual ao Pezão".

"Tenho 33 anos de vida pública e nunca fui condenado por ação de improbidade administrativa, que é mau uso do dinheiro público. Até renunciaria a minha candidatura", disse o candidato do PR.

Pezão recorre no TRF (Tribunal Regional Federal) de condenação por improbidade administrativa na compra de ambulâncias quando era prefeito de Piraí. Garotinho responde a 13 processos que analisam a infração, sem decisão judicial até o momento. Mas o ex-governador já foi condenado por formação de quadrilha em caso envolvendo máfias de caça-níques. Ele recorre no STF (Supremo Tribunal Federal).


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