Folha de S. Paulo


'Não há risco de racionamento de água em 2015', diz Alckmin

Sob a sombra de uma das maiores crises de abastecimento de São Paulo, o governador e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB), garante que não haverá racionamento de água no ano que vem, mesmo que volte a chover menos do que a média histórica.

Segundo ele, a administração estadual tem condições de enfrentar um novo período seco sem a necessidade de limitar o consumo de água da população paulista.

Em entrevista concedida no domingo (28), o tucano considerou de um "mau gosto danado" crítica de seu adversário Paulo Skaf (PMDB) de que ele não governa com "tesão" e, embora critique o excesso de partidos na política brasileira, reconheceu a necessidade de se aliar a legendas nanicas para ter "o mínimo de tempo de televisão".

Adriano Vizoni/Folhapress
Geraldo Alckmin, governador de SP e candidato à reeleição, em entrevista no Palácio dos Bandeirantes
Geraldo Alckmin, governador de SP e candidato à reeleição, em entrevista no Palácio dos Bandeirantes

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Folha - A expectativa da campanha era divulgar um programa de governo na metade de setembro. Falta menos de uma semana para as eleições e nada foi publicado. Houve um desistência?*
Geraldo Alckmin - Será ainda divulgado. Nós apresentamos o programa mínimo à Justiça Eleitoral e (o programa final) está praticamente elaborado, na fase final de redação para que possamos colocar na internet.

Em 2010, o senhor prometeu entregar 30 km de trilhos, asfaltar 5 mil km de estradas vicinais e entregar 12 piscinões. Nenhuma delas foi cumprida. Houve exagero nas promessas feitas?
Vamos por partes, primeiro as estradas vicinais: são 4,3 mil km. Como tivemos também 900 km que são responsabilidade das concessionárias, elas fazem a manutenção e o contrato é com o governo, ultrapassamos os 5 mil km. Nós não entregamos os 30 km (de trilhos), mas temos em obras 103 km. Eu acho que não tem na América Latina nenhuma região metropolitana que tenha 103 km em obras de metrô e monotrilho. E não estou incluindo a expansão da Linha 2 - Verde, com 13 estações, que dará mais 15 km. Em relação aos piscinões, o nosso projeto era fazer uma PPP (Parceria Público-Privada). E, ao longo do processo, resolvemos anular. Então, realmente, o número foi menor, mas temos hoje piscinões em São Bernardo do Campo, São Paulo, Parque Ecológico do Tietê e obras na Marginal Tietê e Franco da Rocha. Nós vamos elaborar melhor a PPP dos Piscinões.

Para a próxima gestão, a expectativa é entregar quantos quilômetros de trilhos?
A expectativa é entregar estações na Linha 4- Amarela, Linha 5- Lilás, Linha 18 - Bronze, Linha 15 - Prata, Linha 17- Ouro, nos trens até Varginha e Guarulhos e no VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos). Se somá-las, dá em torno de 53 estações, mais de 60 km.

Se a quantidade de roubos cresceu em São Paulo desde 2010, segundo dados do próprio governo, por quê o efetivo policial caiu no mesmo período?
Praticamente, o número de policiais militares foi mantido, em torno de 89 mil policiais, e estamos fazendo uma contratação de 23 mil policiais para Polícia Militar, Civil e Técnico-Científica. Nós estamos colocando mais policiais militares na atividade fim. Nós vamos preencher toda a Polícia Civil e, no caso da Polícia Científica, são 1.800 vagas a mais, cujo projeto de lei já foi aprovado. Em relação aos roubos, nós adotamos a partir do final do ano passado o boletim de ocorrência eletrônico também para roubo. Hoje, 40% dos boletins de ocorrência são pela web e havia uma subnotificação. E estamos insistindo com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), junto com secretários de Segurança Pública do país, para, no caso de roubo a celular, que ele pare de funcionar, inclusive como computador.

O governo de São Paulo não deveria ter sido mais transparente ao informar a população sobre o que está ocorrendo em relação à crise de desabastecimento de água?
Nós colocamos tudo na internet. Qualquer cidadão se informa sobre o nível de todas as represas: quanto cai, quanto não cai, subiu ou estabilizou. Frente a uma situação de seca, fizemos planejamento, investimento e uso racional da água. Nós começamos a dar o bônus em plena chuva, começou no verão, em fevereiro. Não tem outro estado que deu estímulo para economizar como São Paulo. Nós chegamos a 78% de economia, sendo que pouco menos da metade ganhou o bônus.

Se o volume de chuvas continuar baixo, quando o governo estadual pretende utilizar a segunda reserva do volume morto?
Nós entendemos que talvez não precise, mas vamos deixar tudo preparado. Se for necessário, haverá uma segunda reserva. A avaliação hoje é de que dificilmente vai precisar. Nós já terminamos o inverno, ainda não é verão, mas já começa a ter chuvas.

Em 2009, relatório alertou a gestão estadual sobre a fragilidade do Sistema Cantareira. Houve descaso do governo de São Paulo de só tomar medidas por causa do agravamento da crise?
Não, a PPP do São Lourenço começou há três anos e não foi só por causa da seca: projeto, outorga, autorização, licença ambiental, financiamento, licitação, contrato e está tudo em obra. E, na região de Campinas, vamos fazer duas grandes represas em Jaguariúna e em Amparo. Isso deve equivaler a uma cidade de 2,4 milhões de habitantes, tudo na linha de diminuir vulnerabilidade.

Se não chover como o governo de São Paulo espera, o eleitor paulista corre o risco de enfrentar um racionamento de água no ano que vem?
Não. Nós não precisamos ter chuva abundante. Pode até chover menos do que a média que ultrapassaremos o novo período seco. Por quê? Porque temos as demais represas bem cheias, temos sistemas de substituição crescentes e há mais reserva técnica. Há um conjunto de fatores.

As investigações do Cade, da Polícia Federal e da Corregedoria do Estado sugerem que funcionários das estatais paulistas receberam propina para facilitar negócios das empresas do cartel e mostram que tem sido comum na administração discutir detalhes das licitações com essas empresas a portas fechadas. Que medidas pretende tomar para impedir que isso volte a acontecer no seu governo?
Não tem nenhum agente público que não tenha sido afastado, abrimos sindicância e investigação na Corregedoria do Estado e trouxemos a sociedade civil para acompanhar a investigação. Aqui, malfeitor é punido, tolerância zero. O cartel se faz fora do governo e o governo é vítima. E se alguém do governo participou ou facilitou será duramente punido.

O governo contratou por R$ 726 milhões da Alstom um sistema chamado CBTC para reduzir o intervalo entre trens e superlotação nas linhas. O sistema, contudo, apresenta uma série de falhas. Por que a administração ainda não suspendeu o contrato?
Esse contrato foi feito em 2008, em outra gestão. Hoje, todas as linhas novas já são CBTC. O que o governo quer fazer é que as antigas virem CBTC. A empresa atrasou a entrega e nós paralisamos os pagamentos, tocamos a multa no valor máximo –R$ 78 milhões– e interrompemos o pagamento. Há expectativa de que até o final do ano já esteja resolvida na a Linha 2 - Verde.

O senhor ficou ofendido quando foi acusado pelo candidato Paulo Skaf (PMDB) de não governar com tesão?
Eu acho de um mau gosto danado, mas não me senti ofendido. Se tem uma coisa que faço com dedicação é trabalhar. Eu não sei a hora que ele acorda, mas eu acordo às 6h e durmo às 00h. E sábado e domingo trabalho também. O sistema presidencialista, como é o nosso, é de canelada. No parlamentarista, os partidos debatem para conquistar o voto. Eu já disputei várias eleições e isso é normal. E quem está na frente leva mais canelada.

Na campanha eleitoral, o senhor recorreu a ex-aliados, como Paulo Maluf (PP) e Gilberto Kassab (PSD), para criticar Paulo Skaf (PMDB). Não é contraditório o senhor atacá-los se, até as vésperas das eleições, buscou o apoio deles?
Não há nenhuma ofensa em dizer quem são as companhias. O que nós estamos mostrando é que quem está lá é Paulo Maluf e Gilberto Kassab. E sabemos como recebemos o Estado. O Mário Covas, quando assumiu o governo estadual depois da gestão de Luiz Antônio Fleury, havia 500 obras paradas, R$ 2 bilhões de dívidas e não tinha dinheiro para pagar salário. A campanha eleitoral existe para esclarecer.

Caso seja reeleito, o senhor buscará o PP e o PSD para governar?
O país não pode postergar mais algumas reformas, que eu espero que o meu candidato Aécio Neves as promova. E uma delas é a reforma política. Nós estamos com 32 partidos, três já com registro e 26 pegando assinaturas. Podem criar partido à vontade, mas não pode ter, sem representação, acesso ao fundo partidário e ao tempo de televisão.

Mas o senhor vai buscar o PP e o PSD?
Não vou procurar ninguém, mas espero ter maioria na Assembleia Legislativa, porque é necessário governar.

O senhor critica o excesso de partidos, mas foi o candidato em São Paulo que teve o apoio do maior número de siglas nanicas e chegou a repassar recursos para elas. Por que, então, aliou-se a elas?
Eu, mesmo com esses partidos menores, por incrível que pareça, não tenho o maior tempo de televisão. A presidente Dilma Rousseff é governante e tem mais de dez minutos de televisão. Nós temos quatro, não somos o maior tempo entre os governadores. Se você não tem os partidos maiores, precisa dos menores para ter o mínimo de tempo de televisão.

O PSDB está há quase 20 anos no comando de São Paulo. Não é tempo demais?
O mandato é de quatro anos e é o povo aquele que diz quem fica e quem sai.

Pela primeira vez em 20 anos, há a possibilidade do PSDB não chegar ao segundo turno. Que erros foram cometidos pela campanha de Aécio Neves?
Nós chegaremos ao segundo turno. Ele está subindo e falta uma semana. O que se tem é intenção de voto e voto mesmo é na urna.

Se o PSDB não passar para o segundo turno, o que apontam as pesquisas de intenção de voto, o senhor vai apoiar Marina Silva no segundo turno?
Nós estaremos no segundo turno com o Aécio Neves.

O senhor deve sair desta eleição como o nome mais forte do PSDB para a disputa presidencial de 2018. Tem a pretensão de concorrer novamente à Presidência da República?
Eu sou candidatíssimo a presidente do Santos Futebol Club (risos). Sou candidato a ser um bom governador de São Paulo.


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