Em dia de mercado tenso, interlocutores de Dilma Rousseff de dentro e de fora do governo recomendam que ela faça sinalizações concretas no dia seguinte à eleição, se for reeleita, para mostrar como será sua política econômica num segundo mandato.
Conselheiros da presidente avaliam que o ideal seria adotar esta estratégia já, mas reconhecem que o debate eleitoral tornou isto impossível, com Dilma acusando seus adversários de prometerem um ajuste fiscal recessivo, tarifaço e cortes de subsídios a bancos públicos.
Eles afirmam, porém, que a sinalização terá de ser feita logo após a eleição para evitar uma disparada na cotação do dólar e uma queda ainda mais acentuada da Bolsa, o que traria prejuízos para a política de combate à inflação.
Nas palavras de um assessor, dá para levar esta "indefinição até o final da eleição", mas depois o preço a ser cobrado pode ser alto.
Nesta segunda-feira (22), influenciada por rumores de pesquisas e pelo cenário externo, a Bolsa caiu 1,68% e o dólar subiu quase 1%, fechando perto de R$ 2,40, maior valor em sete meses.
Hoje, destacam interlocutores da presidente, o governo virou refém do discurso eleitoral. Enquanto Dilma ataca propostas de seus adversários, sua equipe trabalha em medidas semelhantes, mas numa dose mais gradual.
A petista acusa Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) de planejarem um ajuste recessivo para segurar a inflação, mas seus assessores admitem que, em 2015, terão de elevar a economia de gastos para pagar juros da dívida.
Neste ano, o superávit primário deve ficar perto de 1% do PIB, mas no ano que vem o próprio ministro Guido Mantega (Fazenda) reconhece que ele terá de ser no mínimo o dobro, de 2% do PIB.
Outro ponto de conflito entre o discurso de campanha e o de dentro do governo são os subsídios a bancos públicos. Dilma acusa Marina de pôr em risco programas sociais ao prometer cortar esses benefícios, mas sua equipe diz que é hora de reduzi-los.
Analistas destacam ainda que o discurso contra a independência do Banco Central, usado para atacar Marina, já causa prejuízos ao governo. Com a alta constante do dólar, questionam se o BC não estaria enfraquecido para agir no mercado ou deixando o dólar subir para mostrar que não se dobra a pressões eleitorais.