Folha de S. Paulo


Após reação em pesquisas, Aécio diz que sofreu estrago eleitoral sem ter errado

"Eu imaginava que, a essa altura, se tivéssemos feito tudo certo, estaríamos chegando a 30%", lembrou recentemente o presidenciável tucano, Aécio Neves. A duas semanas do primeiro turno, porém, ele tem 17% das intenções de voto e um diagnóstico: "Nós não erramos. Não houve um erro. Houve uma tragédia".

O acidente que matou o ex-governador Eduardo Campos (PSB) e trouxe à disputa a ex-senadora Marina Silva acabou empurrando Aécio para a eleição mais complexa de sua trajetória política.

Rebaixado à terceira colocação, viu uma parcela de seus votos ser dragada pela nova adversária com rapidez.

"Eu levei uns dez dias para conseguir começar a avaliar o estrago eleitoral para mim, sabe?", comentou recentemente com um aliado.

"Gostava muito do Eduardo e aquilo pegou forte. Lá em casa começou um papo meio inevitável de podia ter sido você'. Foi difícil. Pensei: Cara, tenho dois bebês em casa e não deixei nada organizado'. Que loucura, né?"

Há menos de dez dias, chegou a 14% nas pesquisas e viu pipocar boatos variados, alguns apontando, inclusive, a possibilidade de ele desistir. A interlocutores, classificou o raciocínio como "burrice".

"Não vou desmentir isso. Vou continuar e vão ver que não faz sentido. Ninguém vai me matar de véspera", reagiu. Todos os dias, pedia "serenidade" a aliados e prometia reagir até 15 de setembro.

POLÍTICOS E AVES

Nesta semana, veio um suspiro. Aécio registrou um esboço de reação em duas pesquisas: passou de 15% a 19% no Ibope e de 15% a 17% no Datafolha. E guardou lições da fase mais adversa.

Recorreu ao trovador mineiro Soares da Cunha para ilustrar uma delas. "Ele escreveu: Amigos são, todos eles, como aves de arribação. Faz bom tempo, eles vêm. Faz mau tempo, eles vão'. Diria que alguns políticos são assim."

Quando caiu nas pesquisas, Aécio viu sua arrecadação diminuir e teve que lidar com projeções constrangedoras de aliados sobre um segundo turno sem ele.

Passado o impacto inicial da morte de Campos, viu que precisava reagir –ele e a presidente Dilma Rousseff (PT), que lidera a disputa. Ambos promoveram, de diferentes formas, ataques a Marina.

O resultado começou a aparecer agora. A pessebista perdeu terreno em nichos importantes do eleitorado, especialmente nas grandes cidades e entre as mulheres. Parte dos votos migrou para Aécio.

Ele adotou o discurso de que começou a "virada".

Na última quinta-feira (18), antes de Aécio viajar à Bahia, aliados do candidato a senador pelo PMDB de Minas, Josué Alencar, discutiam, na sala de espera de uma empresa de táxi aéreo em São Paulo, a situação do tucano.

"Seria um milagre", comentavam, em conversa descontraída. "A situação é extremamente difícil; até lá", avaliavam, em referência a Minas, berço político e que já foi governado duas vezes por Aécio.

Principal liderança do PMDB, o vice-presidente Michel Temer, que concorre com Dilma à reeleição, estava na sala. Cerca de dois minutos separaram a conversa dos peemedebistas da chegada de Aécio ao mesmo local.

O tucano trocou um abraço afetuoso com Temer antes de embarcar no avião que havia fretado para ir à Bahia.

SANTINHOS

Aécio desembarcou em Ilhéus (BA) e pegou um helicóptero com o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), seu aliado, rumo a Itabuna. Na aeronave, ACM mostrava fotos de um evento que fez para seu candidato ao governo, Paulo Souto (DEM-BA). "Você colocou minha foto lá?", perguntou Aécio, aos risos. "Claro."

ACM desfruta de boa aprovação em Salvador e seu candidato ao governo deve ser eleito no primeiro turno. Mas na Bahia, como em todo o Nordeste, Aécio vai mal.

Os dois desceram em Itabuna e foram ao encontro de candidatos a deputado. "Só eu tenho 15 milhões de santinhos com seu número", disse Jutahy Júnior (PSDB-BA). "Na reta final, nossa estrutura vai fazer diferença."

Os baianos prepararam quase que uma micareta para receber Aécio. "Vocês jogaram duro aqui, hein?", brincou ACM quando viu a multidão.

Aécio tentou caminhar, mas o assédio, especialmente das mulheres, fez com que o levassem para um trio elétrico. De lá, disse que eleição ninguém ganha de véspera. Agradeceu à "lealdade" de ACM Neto e ouviu do prefeito: "Vai dar. Eu acredito".


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