Folha de S. Paulo


Senadores dos últimos 30 anos não souberam negociar por SP, diz Kassab

Presidente do PSD, que criou em 2011, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, 54, tem fama de bom articulador. Ele diz que o Estado pode se beneficiar do talento caso seja eleito senador.

"Dar um apoio aqui para receber um apoio lá, dentro da mais absoluta ética e transparência", disse. "Nessa questão, tenho bom perfil."

Terceiro colocado nas pesquisas –9%, segundo o último Datafolha–, Kassab irá registrar documento com os principais pontos que pretende defender no Senado para se diferenciar de seus principais adversários. Leia a íntegra da entrevista a seguir.

Raquel Cunha/Folhapress
O candidato ao Senado pelo PSD e ex-prefeito, Gilberto Kassab, no 15º andar do edifício Joelma, sede do partido
O ex-prefeito Gilberto Kassab, candidato ao Senado, no 15º andar do edifício Joelma, sede do PSD

*

Folha - Como a experiência do sr. em outras casas legislativas pode ajudar no Senado?
Gilberto Kassab - São Paulo perdeu muita força nos últimos 30 anos –perdemos recursos, qualidade de vida, investimentos. Nossos senadores não souberam ou não criaram negociações que pudessem reverter [o cenário].

Por que não votaram o fim da guerra fiscal? Aí vem a argumentação: vai beneficiar só São Paulo. Mas a votação da zona franca de Manaus não beneficiou só o Amazonas? É correto que seja assim.

É reflexo de os senadores se afastarem por outros cargos?
Posso dizer em relação a mim. Estou assumindo o compromisso: vou ficar oito anos no Senado, não vou me afastar. Vou fazer o que não foi feito nestes 30 anos.

Como o sr. vai se diferenciar, estando atrás nas pesquisas?
O eleitor quer propostas concretas. Vou registrar um plano de ação em que me comprometo a defender pontos específicos: reduzir a maioridade penal, ampliar a isenção de Santas Casas, cumprir a isonomia salarial entre os sexos, entre outros.

Desde 2011, quando surgiu o PSD, o sr. é tido como bom articulador. Como São Paulo pode se beneficiar desse perfil?
São coisas distintas. Meu papel como senador será brigar por São Paulo. A questão da articulação não diz respeito diretamente ao mandato.

Ser bom negociador significa ter credibilidade. Falam: "Vamos desenvolver um entendimento que seja bom para o seu Estado, mas quero reciprocidade". Então, dar um apoio aqui para receber um apoio lá, dentro da mais absoluta ética e transparência. Evidente que no Senado deve haver compensações entre pares. Nessa questão específica, tenho bom perfil.

Muitas vezes os congressistas têm seu trabalho avaliados pela quantidade de projetos produzidos. O sr. acha que esse critério é errado?
É errado, lógico. O importante são as manifestações do parlamentar em relação aos projetos debatidos, seja dos colegas seja do Executivo. A "paternidade" de um projeto não é tão importante assim. A iniciativa do projeto é o menos importante na atividade parlamentar. O importante é olhar a sua conduta.

A coligação do sr. apóia a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff. Caso ela não seja eleita, muda algo na atuação que o sr. pretende ter?
Vou ser senador do Estado de São Paulo, trabalharei com qualquer que seja a presidente, qualquer que seja o governador, qualquer que seja a bancada. Não é porque eu vou votar em um candidato que se o outro ganhar vou deixar de trabalhar junto.

Mas existe essa lógica.
Não será a minha, qualquer que seja a presidente. Até a presidenta Dilma: se tiver projetos que sejam bons para o Brasil, terá meu apoio; se tiver projetos que não sejam bons para o Brasil, não terá o meu apoio. Sempre tive essa conduta, não é agora que não vou ter.

Não é confuso dizer que o PSD não é "nem de esquerda, nem de centro, nem de direita" e se apresentar como renovação?
Meu partido é de centro. Essa afirmação foi maldade de um jornalista. Ele perguntou o que seria o partido, eu disse: "Não posso, hoje, afirmar que é nem de centro, nem de direita, nem de esquerda, porque o partido está sendo formado". Não tínhamos nem programa. Se afirmasse antes de uma definição partidária, seria um coronel.

No fim do ano passado o sr. cogitava concorrer ao governo do Estado. Por que a escolha por concorrer ao Senado, no fim das contas?
O partido estava com uma disposição de participar dessas eleições com a proposta da renovação. A nossa ideia era tentar ter uma chapa própria, com o Henrique Meirelles para governador. Ele tirou um tempo para pensar, avaliou e falou que não, acabou sendo senador. Então eu como pré-candidato a governador e ele, senador.

À medida em que o tempo foi passando, nossa pré-candidatura foi se consolidando, mas também foi se consolidando a candidatura do Skaf, que também representava uma renovação. Com o tempo, acabou surgindo uma visão majoritária no partido de que era muito ruim ter duas candidaturas de renovação. E acabou se iniciando um entendimento para tentar construir, então, uma chapa de renovação, que foi daí o Skaf no governo e eu, senador.

A escolha por coligar com o PMDB e não com o PSDB foi mais por alinhar o discurso de renovação?
O PSDB, a minha impressão, é que enquanto a gente estava se candidatando a governador, eles tinham respeito pela candidatura. Quando viram que a gente estava admitindo não ser candidato e fazer uma aliança com o PMDB, aí nos procuraram, me convidaram para ter o candidato a senador. Mas acabou prevalecendo a aliança com o PMDB e, depois, a minha candidatura.

Quando José Serra decidiu ser candidato ao Senado...
Teve a convenção do PSDB no domingo, que definiu ele como candidato a deputado, e a nossa foi na segunda.

O sr. cogitou mudar de plano porque ele decidiu candidatar-se ao Senado?
Minha relação pessoal com ele é excelente, mas aí tinha a decisão de uma coligação, o lançamento, a opinião pública, as entrevistas. Tem coisas na vida que são irreversíveis.

Seria constrangedor desistir?
Constrangedor, não. Seria um desrespeito com a minha aliança e com a opinião pública, não teria por quê. Decisão tomada, fui lançado. Ele resolveu sair, é um direito.


Endereço da página: