Folha de S. Paulo


Dilma defende reforma política e admite 'crise de representação no país'

A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, admitiu nesta sexta-feira (12) que acredita que há uma crise de representação política no Brasil e defendeu uma reforma política feita por meio de referendos ou plebiscitos.

Em sabatina realizada pelo jornal "O Globo" na manhã desta sexta-feira, no Palácio do Alvorada, Dilma afirmou que acredita na importância dos partidos, por mais que o país tenha um número elevado de siglas e que o governo precise negociar com os partidos.

"Acredito em partidos. Se você me perguntar: 'tem partido demais?'. Eu digo que tem sim. Mas não sou eu que tenho que decidir qual partido é excessivo. É o público através de um plebiscito. Quem tem bons partidos tem democracias históricas. Há uma crise de representação no Brasil", disse.

Em 2013, após a onda de protestos realizados entre maio e julho no país, a presidente já havia proposto a realização de um processo constituinte específico para a realização de uma reforma política, e também propôs convocar um plebiscito, mas recuou da iniciativa.
A candidata não aceitou a crítica de que entregou cargos na Esplanada para garantir apoio de algumas siglas.

"Meu caso é muito um exemplo do que estou falando. Acho que você negocia, mas você negocia tudo aquilo que você acredita que não vai prejudicar a soberania, o interesse do seu país", disse.

Questionada sobre as dificuldades de negociar com o Congresso em alguns momentos de seu governo, a presidente afirmou que o diálogo entre os partidos possibilitou algumas vitórias importantes, como a aprovação da reforma para a área de portos, do marco civil da internet e do código florestal.

Ela, no entanto, admitiu ter sofrido derrotas em alguns momentos, mas classificou isso como natural do jogo político.

SEGURANÇA

Durante a sabatina, Dilma afirmou que desistiu de enviar ao Congresso, antes do fim do período eleitoral, a proposta de emenda constitucional para tornar permanentes os centros de comando e controle que foram usados durante a Copa do Mundo, após o período eleitoral.

A candidata afirmou que o projeto não pode ser politizado nesse período por se tratar de um assunto muito importante e que deve ser analisado com calma pelo Legislativo.

A promessa de que enviaria a proposta ainda neste mês foi feita por Dilma em uma entrevista coletiva concedida no fim de agosto. Na ocasião, ela afirmou que a iniciativa visa ampliar o papel da União nas estratégias de segurança pública para todo o país.

Atualmente, a Constituição determina que a responsabilidade sobre a segurança pública é dos Estados e à União cabe a segurança das fronteiras e a manutenção da lei e da ordem. Durante a Copa, os centros de comando e controle atuaram com representantes da União, Estados e municípios em 12 cidades que sediaram o mundial.

OPONENTE

Dilma voltou a criticar a sua adversária, a candidata pelo PSB à Presidência Marina Silva, ao dizer que ela está se vitimizando diante dos ataques que a petista tem feito nas últimas semanas.

"Tudo o que nós discutimos até agora sobre a candidata Marina e o candidato Aécio [Neves, candidato à Presidência pelo PSDB], discutimos no que fizeram ou no que falaram. Eu tenho todo o meu governo para ser analisado e criticado", afirmou Dilma.

"É perigosa a vitimização. [...] Não estou acusando a ela. Estou discutindo o programa dela. Estou discutindo os termos políticos postos e propostos por ela em seu programa de campanha", disse a candidata.

Sobre a participação da educadora e herdeira do banco Itaú, Maria Alice Setubal, conhecida como Neca, na coordenação de campanha da pessebista, Dilma afirmou que ela está agindo como banqueira no pleito eleitoral por defender a autonomia do Banco Central para diminuir a participação dos bancos públicos e porque ela doou dinheiro para uma ONG gerida por Marina.

Questionada sobre ter recebido grandes valores de bancos para sua campanha à reeleição, Dilma afirmou que as doações foram "institucionais".

"Eu recebi para minha campanha. É uma campanha institucional. Nunca ninguém nem chegou a se aproximar de mim para doar dinheiro para mim", disse.

RELIGIÃO

Questionada durante a sabatina se havia ido à inauguração do Templo de Salomão, nova sede da Igreja Universal, em São Paulo, para entrar em um dos segmentos de Marina, evangélica declarada, e retirar votos da pessebista, Dilma evitou dar uma resposta direta e explicou que sua formação política começou em grupos católicos de Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG).

"Mas o que eu sou? Sigo a frase 'Vocês têm de amar a Deus, mas têm de amar uns aos outros'. Esse ensinamento de Cristo diminui a barbárie. 'Amai uns aos outros, como vocês se amam a si mesmos'. Acredito que um Deus desse tipo como é o Deus de Jesus", disse.

A candidata ressaltou depois que apesar de acreditar em Deus e nos ensinamentos da religião católica, o Estado precisa ser laico. "Respeito muçulmano, evangélico, todas as religiões. Mas tenho imensa admiração pelo Papa Francisco.Meu Deus é um Deus bom. Não vejo um Deus que seja só de uma religião. O Estado é laico. É inconstitucional transformar qualquer religião em religião do Estado", afirmou.

Para Dilma, o Papa Francisco, chefe supremo da Igreja Católica, é a maior liderança religiosa que ela viu em seu tempo de vida e disse que seu encontro com ele, durante a Jornada Mundial da Juventude, realizada no Rio de Janeiro no ano passado, foi mais do que um encontro com um chefe de Estado.

HOMOFOBIA

Dilma voltou a se comprometer com a aprovação do projeto de lei que trata da criminalização da homofobia mas ressaltou que o governo deverá tentar retirar trechos da proposta que não versam sobre o assunto. A proposta está parada no Senado.

"Primeiro eu quero dizer que tenho integral compromisso com criminalização da homofobia. Meu projeto tem vários artigos. Não estou aprovando projeto, estou aprovando diretriz. Todos os que punem homofobia o governo é favorável", afirmou Dilma.

A candidata defendeu ainda a igualdade de direitos para todos e lembrou que o STF (Supremo Tribunal Federal) já reconheceu o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

"Não temos condição de impor obrigatoriedade do casamento religioso. Casa quem quiser. O Estado como é laico tem obrigação de reconhecer direito de herança. Isso é uma discussão que foi resolvida no maior nível possível, pelo Supremo. Discutir se tem direito ou não é um absurdo", disse.


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