Profissionais da imprensa –entre eles fotógrafos, jornalistas e radialistas– fizeram um ato de protesto contra o Tribunal de Justiça de São Paulo que considerou o repórter fotográfico Alex Silveira culpado por ter sido ferido por um tiro de bala de borracha no olho, disparado pela Polícia Militar, durante a cobertura de uma manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, em 2000.
Em apoio ao repórter fotográfico, que à época trabalhava no jornal "Agora São Paulo", do Grupo Folha, dezenas de profissionais posaram para o ensaio "Os Culpados" com um tapa olho e, nas redes sociais, manifestaram apoio ao colega. O ensaio foi divulgado na noite desta quinta-feira (10).
Silveira perdeu cerca de 80% da visão esquerda. A Justiça, entretanto, considerou que o profissional foi o culpado pelo ferimento e derrubou, em decisão do dia 28 de agosto, a sentença de primeira instância que condenou o Estado a lhe pagar cem salários mínimos por danos morais e materiais, já que a perda parcial da visão prejudicou seu trabalho.
Rubens Cavallari/Folhapress | ||
Profissionais posam com um tapa olho em protesto contra decisão que culpou fotógrafo por lesão |
"O autor colocou-se em quadro no qual se pode afirmar ser dele a culpa exclusiva do lamentável episódio do qual foi vítima", diz a decisão do desembargador Vicente de Abreu Amadei, relator do caso, que foi seguida por outros dois desembargadores.
A decisão causou indignação entre profissionais do segmento. Em nota, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e o sindicato dos jornalistas no Estado criticaram o Tribunal de Justiça.
"Não apenas o desembargador transforma a vítima em culpado. Ele considera que todo jornalista que cumpra o seu dever de informar assume um risco e está por sua própria conta, desamparado pela sociedade", criticou a Abraji.
O fotógrafo também lamentou a decisão, em carta publicada no site da Arfoc (Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos no Estado de São Paulo).
"Realmente não consegui encontrar outra forma de explicar tal absurdo. Sim eu estava lá no cumprimento de minha profissão, entendeu o juiz. Sim, foi a polícia a responsável pelo tiro que me atingiu no rosto (bala de borracha). Mas julgou com isso que eu tenho culpa por ter me colocado na frente da bala. (...) E o mais bizarro e perigoso 'pra todos nós': ele entendeu que ao permanecer no local eu 'assumi o risco'", diz, em nota.