Folha de S. Paulo


Mendes diz que 'militância suja' tenta intimidá-lo no julgamento de Arruda

O ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Gilmar Mendes disse nesta quinta-feira (11), durante julgamento de recurso do ex-governador José Roberto Arruda, que uma "militância suja" do "submundo" de Brasília, financiada com dinheiro público, tenta intimidá-lo através de insinuações de troca de favores entre ele e o político.

De acordo com Mendes, há uma tentativa de ligar o seu pedido de vista no caso de Arruda, que adiou o julgamento de terça-feira (9) para esta quinta, com o fato de sua enteada ter escapado de uma demissão em massa que ocorreu no início do governo do político.

"Além dos ataques que se fazem aos juízes, blogs financiados com dinheiro público, hoje me vem uma pergunta de uma jornalista do Estadão dizendo que tinha informações seguras que eu pedira vista pois queria atender a pleito do Arruda pois me fizera favor, teria mantido uma enteada minha no governo do DF. A que ponto nós chegamos?", disse.

O ministro destacou que não iria se intimidar e que é inimaginável se supor que pediria vista num processo por uma suposta benesse.

"Imaginam que um juiz pede vista dos autos para recompensar um falso benefício que ele teria recebido? Porque eles operam com essa medida [acreditam que também operamos]. Eram nada ontem e se perdem a eleição voltam ao nada de ondem vieram e nunca deveriam ter saído", disse.

O ministro ainda destacou que, devido a tais ataques, o TSE deve ser firme em suas posições, sem poder "ceder" ou "vacilar".

LINHA DO TEMPO DO CASO ARRUDA

Novembro de 2009

  • Na Operação Caixa de Pandora, PF desvenda esquema de compra de apoio na Câmara Legislativa do Distrito Federal. O mensalão do DEM havia sido montado para favorecer Arruda, então governador

Novembro e dezembro de 2009

  • Cenas de corrução explícita, filmadas por câmeras escondidas, atingem imagem de Arruda. Em uma, ele aparece recebendo um maço de notas com R$ 50 mil. Disse que o dinheiro era para a compra de panetones. Outro vídeo mostra um aliado do governador colocando dinheiro na meia. Uma terceira gravação mostra um empresário pondo dinheiro na cueca

Dezembro de 2009

  • Arruda anuncia sua desfiliação do DEM um dia antes de uma reunião do partido que deveria expulsá-lo. Ele havia tentado, sem sucesso, evitar a reunião na Justiça

Fevereiro de 2010

  • Suposto emissário de Arruda é preso ao oferecer R$ 200 mil de suborno a uma testemunha, para que ela favorecesse o governador no julgamento do Mensalão do DEM

De fevereiro a abril de 2010

  • Passa dois meses preso preventivamente na Superintendência da Policia Federal. É o primeiro governador a ser detido por corrupção durante o mandato

Março de 2010

  • É cassado pela Justiça Eleitoral por desfiliação partidária e desiste de recorrer da decisão do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) que lhe tirou o mandato

Dezembro de 2013

  • Arruda é condenado em primeira instância por improbidade administrativa no caso do mensalão do DEM, na 2ª Vara da Fazenda Pública do DF. É sentenciado a pagar R$ 1,1 milhão de multa, entre ressarcimento e danos morais

Fevereiro de 2014

  • Arruda é condenado por improbidade administrativa em outra ação, por irregularidades no jogo de reinauguração de um estádio, em 2008. Um amistoso entre Brasil e Portugal custou R$ 9 milhões aos cofres do governo, e não houve licitação

Junho de 2014

  • O TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios) marca para o dia 25 o julgamento do recurso apresentado por Arruda, contra a condenação do Mensalão do DEM. Se a condenação fosse mantida, a decisão de segunda instância o tornaria inelegível, de acordo com a Lei da Ficha Limpa
  • Um dia antes da sessão, o ministro Napoleão Nunes Maia Filho, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), suspende o julgamento. A imparcialidade do juiz que condenou Arruda em primeira instância estava sendo questionada, e Nunes Maia entendeu que esse caso deveria ser julgado antes
  • Candidatura de Arruda ao governo do DF é confirmada pela chapa encabeçada pelo PR

Julho 2014

  • Com o julgamento suspenso, Arruda consegue registrar sua candidatura ao governo do DF até o fim do prazo, no dia 5. Sua coligação é composta por PRTB, PR, PTB, PMN e DEM
  • Joaquim Barbosa, ainda na posição de presidente do STF, manda julgar o recurso de Arruda, que dependendo do desfecho, faria com que ele fosse inelegível. As diretorias nacionais do DEM e do PPS mandam os diretórios do DF retirar apoio do candidato
  • Arruda é condenado em segunda instância por improbidade administrativa no caso do mensalão do DEM, pelo TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios). Com isso, passa a ser ficha suja. Surge a dúvida se sua candidatura às eleições deste ano deve ser mantida, já que a condenação ocorreu quatro dias depois do registro dos candidatos na Justiça Eleitoral.

Agosto 2014

  • O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mantém a candidatura barrada. O advogado de Arruda, José Eduardo Alckmin, diz que irá recorrer. Ainda cabem recursos para o próprio TSE e para o STF (Supremo Tribunal Federal)

Setembro 2014

  • Ministério Público Eleitoral pede à Justiça que mantenha barrada a candidatura de Arruda
  • Em sessão do TSE, o Gilmar Mendes pede vistas do processo e adia o julgamento. O pedido foi feito logo após o relator do processo, ministro Henrique Neves, ter defender que a candidatura continue barrada pela Lei da Ficha Limpa
  • Arruda lidera corrida eleitoral no DF, segundo o Datafolha, com 37% das intenções de voto. O segundo colocado, governador Agnelo Queiroz (PT), tem 19%

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