Folha de S. Paulo


Senador diz que vai renunciar se comprovado elo com caso Petrobras

Citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa como um dos congressistas envolvidos no esquema de corrupção na estatal, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) prometeu nesta terça-feira (9) renunciar ao mandato se ficar comprovado qualquer vínculo seu com o ex-diretor ou com as irregularidades na estatal.

Nogueira também exonerou o servidor de seu gabinete que viajou de Brasília para São Paulo, em janeiro de 2012, com passagem paga pelo doleiro Alberto Youssef, como revelado nesta terça pelo jornal "O Estado de S. Paulo". A exoneração deve ser publicada no "Diário do Senado" até o final da semana.

Em carta encaminhada ao juiz Sérgio Fernando Moro, da 13ª. Vara Criminal de Curitiba (PR), que investiga o caso, Nogueira se diz "perplexo" com as acusações que ligam o seu nome à Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que descobriu o esquema de lavagem de dinheiro na estatal.

Nogueira diz, na carta, que vai renunciar ao mandato se houver registros financeiros vinculados às confissões do ex-diretor da Petrobras ou se surgirem áudios e vídeos ou "qualquer conversa imprópria do ponto de vista ético" entre ele e Paulo Roberto Costa ou qualquer outro integrante do esquema de corrupção.

Sergio Lima -12.abr.2013/Folhapress
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos citados pelo ex-diretor da Petrobras
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos citados pelo ex-diretor da Petrobras

O senador também está disposto a abrir mão de sua cadeira no Senado se houver transações que beneficiem a ele ou suas empresas, ou se houver "qualquer comprovação de vínculo financeiro ilegal ou impróprio, também no contexto dos temas tratados pelo senhor Paulo Roberto".

Em entrevista no Senado, Nogueira disse que nenhum parlamentar pode manter o seu mandato se tiver recebido dinheiro de "doleiro ou diretor de estatal". Presidente do Partido Progressista, o senador disse não ter conhecimento do envolvimento de outros membros da sigla no esquema de corrupção.

"Não tenho procuração para defender ninguém. Como presidente de partido, não vou tentar execrar nenhum inocente, mas também não vou usar o partido de forma nenhuma para defender nenhum culpado."

Nogueira disse que o PP não vai investigar o envolvimento de membros da sigla porque não tem "instrumentos" para apurar as denúncias.

"Quem tem instrumento é a CPI, o Ministério Público, a Polícia Federal. Depois de apurada, aí sim o partido deve se reunir para tomar atitudes se tivermos culpados."

Além da promessa de renunciar ao mandato, o senador disse que abre mão de "qualquer tipo de segredo de Justiça" nas investigações do caso. Na carta, o senador admite ao juiz que manteve "alguns poucos e raros contatos" com Paulo Roberto para tratar de assuntos do Piauí.

"Jamais mantive qualquer contato com o senhor Paulo Roberto que não tenha obedecido aos ditames da lei e da ética", afirmou. O senador disse que assumiu a presidência do Partido Progressista em abril de 2013, um ano após a saída de Paulo Roberto da diretoria da Petrobras.

"Até a publicação das recentes imputações feitas ao senhor Paulo Roberto, tinha em relação a ele a impressão positiva de um técnico sério e competente. Considero que o instrumento da delação premiada pode ser um eficiente meio para o combate à corrupção, mas esse mecanismo não deve, nem pode, ser utilizado para atingir pessoas honradas ou denegrir inocentes", afirmou ao juiz.

Editoria de Arte/Folhapress

PASSAGEM

Nogueira encaminhou ao juiz depoimento que colheu do servidor de seu gabinete que teria recebido a passagem aérea de Youssef. Reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" afirma que, além do servidor de Nogueira, um funcionário do senador Cícero Lucena (PSDB-PB) também teria viajado com passagem paga pelo doleiro.

"No tocante ao servidor de meu gabinete flagrado em relação imprópria com personagens da investigação, encaminho depoimento prestado pelo servidor, sumariamente afastado por mim após tomar conhecimento dos fatos publicados pela imprensa", afirmou.

Em nota divulgada a imprensa, Nogueira ainda afirma que o seu assessor Mauro Conde Soares afirmou que a oferta da passagem foi intermediada por Meire Poza, ex-contadora de Youssef. "Conforme admitiu o assessor, uma terceira pessoa, conhecida da contadora, o convidou para um almoço fora das dependências do Senado. Após esse encontro, ele ainda foi a São Paulo para se reunir com a contadora, que enviou as passagens", afirma o senador na nota.

Nogueira disse que não foi informado da viagem porque o servidor disse que ocorreu em "caráter pessoal" durante o período de recesso parlamentar do Congresso. "Por ter traído a confiança funcional devida, o servidor foi imediatamente exonerado do cargo e eu estou tomando todas as providências cabíveis com relação ao fato", afirmou. O servidor também registrou o mesmo depoimento à Polícia do Senado, segundo Nogueira.


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