Folha de S. Paulo


Ações de sucroalcooleiras disparam na Bolsa com 'efeito Marina'

Desde a divulgação da primeira pesquisa com o nome de Marina Silva entre os candidatos à Presidência, as ações de empresas sucroalcooleiras apresentam forte alta na Bolsa.

O levantamento Datafolha, de 18 de agosto, veio a público cinco dias após o acidente aéreo que matou Eduardo Campos, então candidato do PSB e que tinha como vice a própria Marina. O resultado mostrava um possível empate entre Marina e a presidente Dilma Rousseff (PT) no segundo turno do pleito, em outubro.

Apenas entre 18 de agosto e 5 de setembro, as ações da Cosan subiram 19,5%, enquanto a São Martinho avançou 12,8% e a Tereos Internacional, 16,3%. O papel da São Martinho também atingiu, no mês passado, seu maior preço histórico, de R$ 45,98.

As valorizações se intensificaram com a confirmação de Marina para liderar a chapa do PSB, em 20 de agosto. Desde então, outras pesquisas mostraram avanço da nova candidata. Os levantamentos mais recentes –do Ibope e do Datafolha, divulgados na semana passada– indicaram vitória da pessebista sobre Dilma no segundo turno.

É um cenário bem diferente do que se via até 20 de março, quando saiu a primeira pesquisa de peso sobre a corrida pelo Planalto, do Ibope. Nesse período, as ações da Cosan caíam 17%, enquanto os papéis da São Martinho tinham alta de 3,76% e os da Tereos desabavam 29,72%.

Agora, considerando o 'efeito Marina', os desempenhos anuais desses papéis eram de 10,81%, 56,79% e 14,46%, respectivamente, até a última sexta-feira (5).

A avaliação de analistas é que o avanço das sucroalcooleiras na Bolsa reflete a possibilidade cada vez maior de que a candidata do PSB seja eleita em outubro. E Marina é conhecida como defensora do uso de combustíveis renováveis, como o etanol, que é feito com cana-de-açúcar, negócio dessas companhias.

"Marina foi ministra do Meio Ambiente. O mercado sabe que ela defende políticas de incentivo ao uso de combustíveis renováveis e isso agrada aos investidores", diz Bruno Gonçalves, analista-chefe da Alpes/Wintrade Corretora.

Editoria de Arte/Folhapress

REAJUSTE

Para Gonçalves, a boa perspectiva para o setor passa por um novo reajuste nos preços dos combustíveis, que tem sido adiado há muitos meses pelo governo Dilma para não pressionar a inflação no país.

"O valor do etanol é, normalmente, 70% do preço da gasolina. As altas nesses combustíveis deveriam caminhar juntas", afirma. "O melhor dos cenários seria se esse aumento fosse suficiente para equiparar os preços dos combustíveis praticados no Brasil com aqueles no exterior, e se Marina criasse uma nova política de reajuste."

Um ambiente de previsibilidade ao setor é outro ponto que favorece as ações de sucroalcooleiras, segundo Artur Losnak e Yannick Bergamo, da Fator Corretora. "O governo atual deixou o setor sucroalcooleiro um pouco de lado e, por isso, a perspectiva de mudança nesse cenário é positiva para as empresas do segmento", dizem.

Isso porque o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tinha uma proximidade maior com o setor, segundo os especialistas, o que diminuiu na gestão Dilma.

Em entrevistas recentes, Marina disse ser a favor de aumentar a fatia de biomassa na matriz energética brasileira, o que também beneficiaria as empresas sucroalcooleiras. A biomassa é um tipo de energia renovável gerada por matéria orgânica, como a cana-de-açúcar.

Analistas ressaltam que, além das especulações políticas, também pesam sobre os papéis do setor características específicas de cada empresa. No caso da Cosan, por exemplo, mencionam a cisão da área de logística da companhia, a Rumo, que deverá se fundir com a ALL. A operação precisa da aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Já em relação à São Martinho, é preciso considerar que a companhia "tem uma situação financeira saudável e um nível de produtividade bem superior ao de rivais", segundo Sandra Peres, analista-chefe da Coinvalores.


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