Folha de S. Paulo


Destaque em campanha contra corrupção, Maluf se diz 'envaidecido'

Na semana em que teve sua candidatura impugnada pelo TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo), o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) realizou uma carreata nesta quarta-feira (3) com direito a fogos de artifício, chuva de papel picado e carro de som na zona leste da capital paulista.

O ex-prefeito de São Paulo, que foi chamado de "Mr. Kickback" –ou "Sr. Propina", na tradução livre– em uma campanha mundial contra corrupção, lançada nesta terça-feira (2) pela organização não governamental suíça Transparência Internacional, afirmou que fica até "envaidecido de estar importunando uma entidade europeia."

"De uma certa maneira, eu fico até envaidecido de estar importunando uma ONG na Europa. Eu pensava que só importunava picaretas brasileiros, mas agora eu vejo que importuno picareta da Suíça", disse.

De acordo com ele, membros da organização suíça estariam sendo processados por "coisas indecorosas". "Eu recebi uma informação de que dois diretores deles estão sendo processados por coisas indecorosas. Eu não me incomodo com isso", afirmou Maluf, que disse também ficar "envaidecido" de ver seu "trabalho dar coceira em pessoas que vivem na Europa".

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Campanha da Transparência Internacional contra corrupção chama Paulo Maluf de
Campanha da Transparência Internacional contra corrupção chama Paulo Maluf de "Sr. Propina"

Na campanha intitulada "Desmascare a Corrupção", que tem como objetivo pressionar o governo suíço a mudar a legislação sobre sigilo bancário no país, Maluf é acusado de ter desviado US$344 milhões (ou o equivalente a R$ 770 milhões) durante seu mandato como prefeito de São Paulo (1993-1997). O ex-prefeito sempre negou as acusações de corrupção.

ANIVERSÁRIO

No dia em que o parlamentar completa 83 anos, um carro de som com o logotipo "Loucuras de Amor" o esperava no ponto de encontro para o início da carreata. Na sua chegada, foi tocada a música "Parabéns da Xuxa". Um cantor também o recepcionou com felicitações. Às 16h, Maluf será entrevistado pela TV Folha, que estreia programação fixa ao vivo nesta quarta-feira.

Na carreata, o deputado federal acenou e mandou beijos para eleitores que caminhavam na rua. O trajeto de cerca de duas horas ocorreu sob um dos jingles mais famosos de suas campanhas eleitorais: "São Paulo é Paulo, porque Paulo é trabalhador", diz o refrão.

Alguns eleitores, entretanto, estranharam a campanha de rua. "Ele não estava sendo processado pela Interpol? Ele está aí e ninguém acha ele?", indagou o publicitário Alexandre Mota, 48 anos, que passava pela região no momento da carreta.

HITLER

O candidato à reeleição disse que irá recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral contra a impugnação de sua candidatura. De acordo com ele, não há dúvida de que a Justiça Eleitoral manterá sua candidatura.

Maluf disse que manterá sua campanha à reeleição até que o TSE julgue seu recurso contra o indeferimento de sua candidatura pelo TRE-SP.

"Decisão da Justiça a gente cumpre. Mas foi 4 a 3, houve uma divisão. Nós vamos recorrer e já há jurisprudência sobre esse assunto", afirmou.

Por 4 votos a 3, venceu o entendimento de que a condenação de Maluf no caso de superfaturamento na construção do túnel Ayrton Senna, quando ele era prefeito de São Paulo, o enquadra no artigo da Ficha Limpa que trata da inelegibilidade por improbidade administrativa.

Depois de ser comparada pelo PT aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor, Maluf disse que o discurso da presidenciável Marina Silva (PSB) lembra o de presidentes do regime militar, como Ernesto Geisel e Emílio Médici.

"Dizer que vai governar sozinha? Quem sabe [Adolf] Hitler, [Benito] Mussolini ou [Joseph] Stalin poderiam falar isso. Aqui, com a mídia livre, não pode acontecer", disse, ressaltando que não vê condições administrativas e politicas para que ela governe.

O ex-prefeito de São Paulo também elogiou a presidente Dilma Rousseff e disse que admira o PT porque tornou-se um partido de "centro para centro-direita".

"Eu me sinto comunista perto do PT de hoje", afirmou.

Como presente de aniversário, ele disse que deseja que o Brasil volte a crescer 10% ao ano. Na semana passada, o IBGE anunciou que o PIB brasileiro caiu 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano.

TESÃO

O ex-prefeito de São Paulo não quis se alongar em comentários sobre declaração do candidato do PMDB ao governo paulista, Paulo Skaf, de que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) não tem "tesão" para governar. Perguntado se aos 83 anos teria "tesão" para mais um mandato, fez piada.

"Não vou comentar, mas não preciso, aos 83 anos, de certos instrumentos que muitos jovens fazem uso hoje em dia", finalizou, entre risos.


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