Folha de S. Paulo


Economista ligado à Marina diz que chamar ajuste de 'tarifaço' é maldade

O economista Eduardo Giannetti, um dos conselheiros de Marina Silva (PSB) em assuntos econômicos, defendeu nesta terça-feira (19) o ajuste rápido dos preços das tarifas públicas no ano que vem.

Ele criticou os que classificam a correção a ser feita de "tarifaço". Alguns preços, como tarifa de energia elétrica, ônibus em São Paulo e gasolina, administrados pelo governo, estão represados para conter a inflação.

"Não será agradável [o ajuste], mas o erro veio antes", afirmou. "Quando o carimbam como 'tarifaço' soa como uma maldade, uma maldade contra a população. Maldade será quando faltar energia ou quando o setor de etanol quebrar e despedir centenas de milhares de pessoas."

O economista deu uma palestra, nesta terça à noite, na Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

Giannetti afirmou que o ajuste é necessário, para limpar o horizonte de incertezas para que os investimentos retornem. Sem saber quando e em quanto os preços serão corrigidos, empresários seguram seus projetos.

Fabio Braga -21.out.2013/Folhapress
O economista Eduardo Giannetti da Fonseca em sua casa, em São Paulo
O economista Eduardo Giannetti da Fonseca em sua casa, em São Paulo

A opinião do economista é que o Brasil passou por ajustes antes, como em 1999 e em 2003. Em ambos os casos, observou ele, as correções duraram pouco tempo (cerca três trimestres) e o país retornou ao crescimento econômico com inflação mais baixa.

"Não vejo nenhuma razão para que seja diferente agora", disse. "Mas ninguém em sã consciência pode dizer que não haverá custo algum."

Os defensores de um ajuste gradual, como o ministro Guido Mantega (Fazenda), afirmam que os custos desse ajuste rápido seria negativo para a população.

Giannetti fez uma comparação com países que estiveram no foco da crise global de 2009, como EUA e Inglaterra, que hoje dão sinais de que voltaram a crescer. Na sua opinião, esse países optaram por um ajuste "rápido e agudo" em vez de uma "dor crônica e prolongada".

Se o ajuste rápido for adotado, defendeu Giannetti, ao fim de 2015 o Brasil poderia voltar a crescer. "Bem diferente de hoje, quando o horizonte simplesmente desapareceu", afirmou.

Para o economista, se reeleito, o governo atual pode entrar em um cenário que classificou de "curva de aprendizado", em que reconhece os erros e faz as correções, que implicam ainda em recuperar o tripé macroeconômico (meta de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal).

Seu receio é o cenário oposto, que ele classificou de "aposta redobrada" nas escolhas atuais. "Seria a 'argentinização" da economia", disse. "Vai nos encaminhar para uma crise financeira, os mercados não vão assistir a esse tipo de comportamento sem adotar uma politica defensiva [retirar recursos do Brasil]".

Segundo ele, economistas identificados com o governo Dilma demonstram que o primeiro caminho deveria ser o adotado, como parte de uma "autocrítica sincera".

Porém, diz Giannetti, o discurso da presidente Dilma Rousseff na campanha eleitoral sugere o segundo (e negativo) cenário. "Quando ouço os discursos da campanha, é uma total falta de humildade de reconhecer que as coisas andaram muito mal e que precisam mudar", disse. "É um estado de negação grave".

A vitória da oposição, "no campo estrito da política econômica", ressalta o economista, indica convergência entre as propostas dos candidatos.

"Vai ter que haver ações corretivas no início do mandato. Ninguém pode negar que há custos nesse movimento. Mas são muito menores do que o de não fazer", disse.


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