Folha de S. Paulo


Na véspera da confirmação de Marina, Aécio faz promessas ao agronegócio

Na véspera da indicação de Marina Silva para disputar a Presidência da República pelo PSB, o candidato do PSDB, Aécio Neves, visitou nesta terça-feira (19) os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, duas das principais regiões produtoras do país, e acenou com promessas para o agronegócio.

O setor tem grandes restrições à ex-ministra, a quem atribui uma atitude intransigente na defesa de questões ambientais, que poderia prejudicar o desenvolvimento da atividade agroindustrial. Marina deverá ser oficializada nesta quarta (20) como candidata do PSB, substituindo o ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo na semana passada.

Na manhã desta terça, durante entrevista em Dourados (MS), Aécio prometeu agir "em parceria" com os produtores rurais.

"Quero aqui hoje, em Dourados, reiterar o meu compromisso em fazer um governo parceiro do agronegócio", disse o tucano, segundo transcrição divulgada pela campanha tucana. "O Brasil hoje deve ao esforço dos homens do campo, na agricultura e na pecuária, o crescimento que vem tendo."

Afirmando estar em uma região "emblemática para nós", Aécio voltou a prometer a criação de um "superministério da agricultura" para definir investimentos em logística e infraestrutura para o setor e com poder para negociar com o Ministério da Fazenda na formulação do Orçamento. Ele disse que a pasta será ocupada por "pessoas representativas" da área e não será objeto de loteamento político.

"Ou compreendemos de forma definitiva que o agronegócio é a principal alavanca para o desenvolvimento econômico, mas também social do país, ou vamos estar daqui a pouco, infelizmente, nos confrontando com o crescimento negativo da nossa economia", declarou o candidato.

Citando números, o tucano evitou associar a expansão da atividade agrícola ao aumento do desmatamento. Afirmou que, desde a década de 90, a área plantada aumentou cerca de 40% no país e que a produção subiu em torno de 220%. "Isso é uma constatação clara de que o agronegócio brasileiro é produtivo, tem responsabilidade ambiental", concluiu.

No início da tarde, ao desembarcar em Cuiabá (MT), Aécio trocou a palavra "agricultura" por "agronegócio" ao dizer o nome do "superministério" que pretende instituir.

"Eu vou criar aquilo que eu já chamei do Superministério do Agronegócio, um ministério que vai ter uma interlocução em pé de igualdade com o Ministério da Fazenda, com o Ministério do Planejamento, na definição do orçamento, com o Ministério da Infraestrutura, na definição de quais os investimentos necessários a ampliar a competitividade de quem produz no Brasil", afirmou.

O candidato prometeu investimentos para o escoamento da produção do Estado, como a conclusão das obras da BR-163, rodovia importante para o transporte de soja e alvo de oposição de Marina durante sua gestão no Ministério do Meio Ambiente. Disse ainda que irá privilegiar hidrovias e ferrovias que, segundo ele, foram "abandonadas" pelo atual governo.

"Nós somos os mais produtivos da porteira para dentro, mas da porteira para fora falta tudo: rodovia, ferrovia, hidrovia e portos competitivos", disse, prometendo também beneficiar os produtores rurais com o envio, no início de um eventual governo, de uma proposta para a simplificação do sistema tributário.

Nesta segunda-feira (18), o coordenador do programa de governo de Aécio e candidato ao Senado por Minas Gerais, Antonio Anastasia, já havia feito uma veemente defesa do agronegócio em Varginha (MG), cidade produtora de café.

Anastasia declarou que Aécio, se eleito, implementará uma política alinhada às necessidades dos produtores. Além da proposta de fortalecimento do Ministério da Agricultura, fez promessas específicas para os cafeicultores, como a implementação de uma política de preços mínimos para o produto.

DATAFOLHA

Os gestos do PSDB em direção ao agronegócio coincidem com a divulgação, nesta semana, de nova pesquisa Datafolha em que Marina Silva, possível candidata do PSB, aparece numericamente à frente de Aécio na corrida presidencial –ela tem 21% das intenções de voto e ele, 20%, numa situação de empate técnico na disputa pelo segundo lugar.

Em Dourados, Aécio disse ser "natural" que Marina esteja bem colocada nas pesquisas. "Temos que agora, respeitando a posição da Marina, esperar que ela possa vir para o debate em relação ao futuro. Eu debaterei o Brasil do futuro", afirmou.

Diante da possibilidade de crescimento de uma terceira via na eleição, Aécio procurou reforçar a polarização entre PT e PSDB ao declarar que seu adversário continua sendo o partido que ocupa atualmente o governo federal.

"O PT optou por uma política social de administração da pobreza. Nós, por outro lado, estamos apresentando propostas que buscam a superação da pobreza. O nosso antagonismo continua sendo com o PT, que é o nosso real adversário", disse.


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